Fiquei sabendo esses dias que a presidenta Dilma andou se queixando do Jornal Nacional a João Roberto Marinho, o segundo dos três filhos de Roberto Marinho, e responsável pelo conteúdo editorial das Organizações Globo. Faz sentido isso? Talvez sim e talvez não. Quem assiste todos os dias ao Jornal Nacional talvez entenda que a investida da presidenta faça algum sentido. De maneira absurda, a Globo apoiou irrestritamente os militares e no governo do PT tomou uma direção oposta. Não se pede à emissora carioca que apoie aquele ou esse governo. Melhor faria se procurasse ser imparcial nas suas coberturas diárias, mas não consegue, embora queira que o espectador acredite.
A Globo é o que foi e sempre será: sabota os governos de cunho popular que buscam fazer algo pelo povo e intimida o mundo político para não perder os seus privilégios. Fez-se durante a ditadura quando deu apoio a ela. Ainda hoje a verba publicitária que recebe do governo federal é de meter inveja. Certo está que o governo gasta com publicidade para se comunicar. Negar dinheiro a esse ou aquele veículo somente porque o critica, não estaria correto, contudo o setor de comunicação governamental deveria olhar melhor para outras mídias. A internet, por exemplo. Em dez anos, a tevê dos Marinhos levou seis bilhões de reais, embora haja uma queda notável de audiência na emissora.
Mesmo depois do período de chumbo e com a abertura política no Brasil, ela seguiu dando as cartas como sempre fazia. Quando da eleição entre Lula e Collor, Roberto Marinho atuou fortemente nos bastidores até que conseguiu eleger o “caçador de marajás” das Alagoas. À época abusou de usar seu poder e o de sua emissora de televisão para convencer os brasileiros de que o candidato do PT não passava de um embuste à nação, enquanto exibia Collor como o mais bem preparado para conduzir o país. Basta lembrar da manipulação pela Globo do debate antes da eleição entre os dois candidatos. Algo que deixa qualquer um sem palavras. Sucedeu-se que um dia a tevê do Jardim Botânico se voltou contra a criatura.
Alguém importante da música brasileira disse um dia que assistia ao Jornal Nacional não para saber o que aconteceu, mas sim para saber o que o jornal queria que ele pensasse que aconteceu, apesar de hoje ter se tornado uma espécie de fiel escudeiro dos filhos de Roberto Marinho. Aliás, o telejornal da emissora vem caindo sua audiência a cada medida do IBOPE. Na última medição, ficou abaixo dos vinte pontos. São poucos os que ainda acreditam nesse falso jornalismo travestido de neutralidade. Os bons tempos estão indo embora. Talvez seja esse o motivo por que as Organizações andem tão preocupadas com a blogosfera.
Recentemente o ex-presidente Lula chamou os blogueiros ao seu Instituto para conceder-lhes uma entrevista. Bastou isso para que o jornal o Globo resolvesse se preocupar e entrevistar meus colegas Rodrigo Vianna, do blogue Escrevinhador e repórter da Rede Record, e Conceição Lemes do Viomundo. Queriam até saber se os jornalistas eram filiados a algum partido. Conceição descascou o verbo. Na visão das Organizações, eles não deveriam ser chamados à entrevista. E a Globo ainda tem a desfaçatez de falar em liberdade de expressão.
Vital B. Pontual é jornalista e autor do livro Escobar Júnior e a Cobertura da VEJA aos Atentados de 11 de Setembro de 2001. Email: vital.bel@bol.com.br