Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão

Com a semana marcada pela paralisação dos caminhoneiros, a sociedade brasileira demonstrou de certa forma, em sua grande maioria, apoiar o movimento. Muitos se solidarizavam acreditando que a pauta apresentada pelos trabalhadores das estradas incidiria diretamente no preço da gasolina, e não apenas no diesel. Outros, apoiando por se tratar de mais uma categoria que sofre assim como as demais, e não tem seus anseios sequer escutados.
Para além das motivações que levaram uns e outros a apoiar ou não a paralisação, alguns apontamentos merecem ser piamente analisados. Um deles é certamente a existência ou não do chamado “locaute”- paralisação forjada pelos donos das transportadoras-; e o outro, o comportamento adotado pela grande mídia (leia-se: Globo, mas também Record e Bandeirantes).
Quanto ao locaute, acredito que possa ter ocorrido, mas não na totalidade do movimento. Mas algumas transportadoras podem ter se aproveitado para tentar barganhar algo para o próprio umbigo. E isso pra mim fica um tanto mais evidente quando o governo negocia com uma parte, mas não atende a todos. Quem nos garante que o locaute e o governo não pactuaram juntos para depois tentar depreciar a luta legítima dos caminhoneiros autônomos?
O que me faz pensar desta forma é a postura adotada de repressão com as Forças de segurança Nacional por parte do Temer, bem como o comportamento da mídia que inicialmente se mostrava favorável ao movimento e tecia comentários de apoio, e tão logo o governo diz negociar, a mesma mídia começa a tratar a paralisação como algo que só trará negatividades a vida da população brasileira, sem sequer mostrar que aqueles trabalhadores também sofrem juntamente com toda essa população e que estão legitimamente acampando bandeiras que acometem a uma categoria.
A pactualização entre governo golpista, mídia golpista e o locaute poderia sim ser o verdadeiro crime contra toda a população brasileira neste momento. Mas a população parece estar atenta e ciente do buraco que nos meteram. Independente das análises mais acertadas ou mais equivocadas sabemos hoje que o sistema está falido e que a estratégia de privatização da Petrobras é o ocasionador de muitas das coisas que temos experienciado nesta semana.
O momento é de pôr na ordem do dia o debate sobre a o Pré-sal, a Petrobras e sua política, mas também de pautar outras bandeiras que vão além da pauta iniciada pelos caminhoneiros, como: Educação, saúde, Reforma Trabalhista e da Previdência e etc. também é hora de avaliarmos como a mídia nos trata querendo nos colocar contra nós mesmos. É hora de refletir sobre tudo e muita coisa. Quem sabe dessa vez a população não exerça minimamente seu papel de cidadania e lute por um país menos escamoteador de sonhos e anseios dos seus.

Mikhail Gorbachiov é Cientista Social pela UFPE

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