Pobre do futebol brasileiro!

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Vital B. Pontual é jornalista e autor do livro Escobar Júnior e a Cobertura da VEJA aos Atentados de 11 de Setembro de 2001. Emeio: vital.bel@bol.com.br

Será lançado na próxima sexta-feira dia vinte e três de maio, na Livraria Cultura em São Paulo, o livro O Lado Sujo do Futebol pela Editora Planeta dos jornalistas Amaury Ribeiro Jr. – autor de Privataria Tucana (Geração Editorial), Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet.

Também esta semana a revista Carta Capital abordou a questão e trouxe um capítulo adicional sobre como João Havelange e Roberto Marinho eram amicíssimos. Ainda segundo a revista, a Fifa anunciou detalhes da festa de abertura da Copa do Mundo 2014 que acontecerá dia doze de junho entre Brasil e Croácia no estádio do Corinthians em São Paulo.

O “show” vai acontecer com a apresentação de mais de seiscentos bailarinos. Uma bola de oito metros com milhares de lâmpadas LED irá se movimentar durante o espetáculo, com a apresentação do rapper Pitbull e das cantoras Cláudia Leite e Jeneffer Lopez. Como se percebe, o luxo vai ser grande. E sabe o leitor quem é a executiva que está organizando essa festinha? A filha de Ricardo Teixeira.

Ao longo de todo esse tempo, a Globo e a CBF conseguiram afundar ainda mais o futebol brasileiro. Quem não há de lembrar da homenagem prestada pela emissora dos Marinho a Ricardo Teixeira quando da saída dele da CBF? O Bezerros Hoje presenteia o seu leitor com um trecho do livro acima citado, extraído do Conversa Afiada do corajoso jornalista Paulo Henrique Amorim. Veja como Roberto Marinho era assim e assim com os mandachuvas do futebol no Brasil:

Quando Ricardo Teixeira assumiu a CBF, em 1989, a TV Globo já mandava no futebol. E no País. No final daquele ano, a emissora conseguiu manipular a primeira eleição presidencial após a redemocratização do Brasil. Ao longo da campanha, favoreceu o candidato Fernando Collor de Mello, sócio da Globo em Alagoas, onde tinha sido governador. Com apoio da grande imprensa e do empresariado, Collor foi ao segundo turno contra o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. No dia seguinte ao debate final da campanha, transmitido pela emissora, a direção determinou que o “Jornal Nacional”, principal telejornal do país, exibisse uma edição favorável a Collor. O “caçador de marajás”, como o político era conhecido em Alagoas, foi eleito

Ao neófito cartola, portanto, era prudente fazer a política de boa vizinhança – ou, em português claro, rezar a cartilha da família Marinho. O mais importante, àquela altura, era não mexer na galinha dos ovos de ouro: os direitos de transmissão dos jogos da seleção brasileira. Desde 1978, quando deu aquela mãozinha para João Havelange na transmissão do Mundial da Argentina, a Globo detinha os jogos da Copa do Mundo. O sogro já havia instruído seu pupilo de que a parceria com a família era antiga – e deveria ser cuidada com carinho. A aproximação havia começado dois anos antes, no início de 1976, para tratar da transmissão da Copa. A pedido de Havelange, Roberto Marinho e o seu então superintendente de Produção e Programação, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, receberam o presidente da Fifa para um almoço na sede da emissora, no Rio. Em sua biografia, Havelange descreve Marinho como “um homem de personalidade e palavra”. A recíproca desse carinho ficou marcada na memória do cartola por um episódio que ocorreu muitos anos depois. Em 1994, um amigo de Havelange e Boni foi preso: o bicheiro Castor de Andrade. Acusado de contravenção, Castor esteve foragido até ser preso no meio do Salão do Automóvel de São Paulo, disfarçado com bigode postiço e peruca preta.

Naquela época, o diretor da Globo e o presidente da Fifa eram mais que amigos: “Tenho no Boni um irmão mais novo”, definiu o cartola. Os três viviam grudados. Boni ficou próximo deCastor pelo samba – o bicheiro, morto em abril de 1997, foi patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel e ajudou a criar a Liga das Escolas de Samba do Rio. Havelange conheceu Castor no futebol, como já contamos, como patrono do Bangu – e se tornaram amigos do peito: reportagem do próprio jornal “O Globo”, de 9 de abril de 1994, chamou o presidente da Fifa de “avalista moral de Castor” e lembrou que, segundo o Ministério Público, o cartola apareceu na lista de propinas do bicheiro – que andava com um “atestado de idoneidade” assinado de próprio punho pelo presidente da Fifa. Quando o bicheiro foi preso, a dupla foi ao presídio prestar solidariedade. “Doutor Roberto” descobriu, pela imprensa, a visita de seu diretor a um contrabandista num presídio e ficou incomodado. No livro sobre a vida de Havelange o episódio é narrado assim: “Assim que soube, Roberto Marinho chamou Boni à sua sala, no décimo andar da sede da TV Globo: – Boni, eu estou muito aborrecido com o fato de você ter ido visitar o Castor. – Mas, doutor Roberto…

– Não precisa explicar, não. Eu sei que você foi lá por causa do Carnaval. – Eu não fui lá por causa do Carnaval, não, doutor Roberto. Eu fui pra lá por causa do João Havelange. – Bom, então pelo menos nós temos aí uma boa desculpa pra eu não me zangar com você. Eu adoro o João Havelange.”

Foi nesse ambiente do “tudo junto e misturado” que o cartola Ricardo Teixeira foi formado. Ganhou blindagem de todos os lados. Era protegido, bajulado, paparicado. Até o dia em que mexeu onde não devia. Já seguro de si, com mais de uma década no comando da CBF, resolveu crescer os olhos sobre os direitos de transmissão da seleção brasileira.

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