O PROFESSOR E HISTORIADOR RONALDO J. SOUTO MAIOR ANALISA BEZERROS NO CENÁRIO REGIONAL

11907167_1223031901056109_4897557209618176593_nO PROFESSOR E HISTORIADOR RONALDO J. SOUTO MAIOR, 74 ANOS, é o nosso entrevistado deste sábado (22). Com ele, damos prosseguimento a nossa série de entrevistas aos sábados, objetivando oferecer aos nossos internautas a oportunidade de conhecer certas nuances da política. Na entrevista, relacionamos Bezerros com o seu passado, buscando entender porque o desenvolvimento não veio para nós na mesma velocidade que apresenta os municípios vizinhos. Ronaldo não titubeou e foi direto na ferida! Além desse aspecto, você vai conhecer um pouco de Ronaldo Souto Maior, que  falou um pouco da sua família, das suas origens e de outras questões históricas relevantes como a preservação da nossa arquitetura. Ainda há, mesmo que subliminar, um recado a classe política de Bezerros. Você confere a seguir: O professor Ronaldo é o nosso 9º entrevistado. Já entrevistamos Nivaldo Santino, Josevânio Miranda, Marcone Borba, Mikhail Gorbachiov, Eugênio do PT, Edgar Lino, Neguinho de Israel e o vereador Gabeira. Vejam os arquivos aqui.

1º-BEZERROSHOJE- O Senhor é um referência em Bezerros por buscar preservar a história do município. Mas gostaríamos de saber mais sobre a família e principalmente sobre a pessoa do professor Ronaldo Souto Maior.

PROFESSOR RONALDO – A família SOUTO MAIOR tem origem em Portugal, quando com o Bloqueio Continental em 1806, Dom João foge para o Brasil, cujo navio tinha como comandante o Vice-Almirante Manuel da Cunha Souto -Maior ( comandante da Nau Príncipe Real ), enquanto a Nau Rainha de Portugal, comandada por Francisco Manoel de Souto – Maior, trazia o restante da família real. Estes, talvez foram os primeiros Souto-Maior que desembarcaram no Brasil. Já em Pernambuco, precisamente em Tejucupapo ( Goiana ) residia o senhor de engenho ANTÕNIO SOUTO MAIOR BEZERRA DE MENEZES, que era casado com Maria da Veiga Pessoa, que tiveram os filhos Mariana, casada com Domingos Albuquerque de Melo Montenegro; Ana, casada com André Dias de Figueiredo, dono do engenho Angico Torto, Maria, casada com Semião Barbosa Cavalcanti, senhor de engenho Gramame, a religiosa Luzia, o padre Antônio, Manoel, José e João. A família Bezerra de Menezes, por causa de suas idéias políticas, era perseguida pelo governo. Os filhos tomaram parte na Revolução de 1817, principalmente o João, que era o mais destemido de todos. Mais tarde um dos descendentes, cessada as perseguições políticas, saiu como mascate, chegando até nossa região – BOCA DA MATA (hoje Sairé, antiga São Miguel), chegando a se casar com uma viúva, Maria das Neves Souto Maior, nascendo entre outros filhos, José Pessoa Souto Maior, que seria meu bisavô.Existe uma variedade no nome SOUTO MAIOR, na Espanha se escreve SOTTOMAYOR, SOUTO-MAIOR, SOUTO MAIOR, mas todos com raízes portuguesa. Assim se tem um pequeno resumo da longa história da família SOUTO MAIOR.

2º BEZERROS HOJE- É inegável a sua adoração por Bezerros, perceptível nas suas várias publicações. Em uma citação na sua rede social descreve: “Sou apaixonado pela minha família e pela minha Bezerros, vivo, sofro, mas não abandono o barco, êta terrinha gostosa”. Qual o dissabor e as virtudes de ser bezerrense?

PROFESSOR RONALDO – Temos mais virtudes, o dissabor é mínimo, mas grave. Muito me orgulho de ter nascido numa bela região, o CAIANA, antigo engenho do meu bisavô, cheia de estórias e histórias, a chuva caindo, pela noite, nos pés de café, um som que guardo até hoje, e lembro-me quando saí para a escola, lá na Primavera – propriedade de Pessoinha e sua filha era professora, caminhava uns trinta minutos para lá chegar, era uma turma boa, todos se juntavam na estrada, com chuva ou sol, para estudar. Concluído o primário, vim para Bezerros, no sobrado de minha avó, fiquei estudando no Cônego Alexandre, onde fui removido da terceira série para a quarta, depois fui fazer o preparatório ao admissão com professora particular, feito exames no Colégio Caruaru, do Dr. Luiz Pessoa, sendo aprovado iniciei o ginasial naquele internato – 1957 -. foi aí, ao entrar no Internato, existia o Grêmio Domingos Sávio, e todo interno novato tinha que, no segundo semestre, apresentar um trabalho sobre a terra de origem. Nas férias de junho, voltando para Bezerros, minha avó relatou muitos fatos de Bezerros, preparei, e voltando das férias fiz a apresentação, sendo bastante aplaudido. Meu primo Ernane Souto Andrade então fez uma pergunta – “por que não faz uma pesquisa sobre Bezerros”? Aquilo ficou na minha cabeça, mas as coisas foram acontecendo de forma natural. Passando o tempo, em 1959 tive uma bruta crise de asma, em fins de novembro, que me levou de volta a Bezerros, e em 1960 fui estudar no Colégio Cenecista São José, colando grau em dezembro do mesmo ano. Neste momento fui convidado pelo Dr. Camelo para ser correspondente do Diário de Pernambuco, quando iniciei a missão de escrever. Como já fazia minhas crônicas na Divulgadora Bandeirante, em 1960, passei a escrever, tanto para a crônica bem como para o jornal. Bezerros já foi uma cidade que fazia gosto de sair às ruas, ir a Estação Ferroviária, ver o trem chegar e partir, pessoas saltavam, outras embarcavam, os carros de praça, ali de plantão, esperando pegar uma corrida para a então Vila São Miguel ou mesmo para Camocim, era a vida girando, ou mesmo ir até ao CLUBE DO LIVRO da saudosa Aliete Neri, as festas de fim de ano, o Teatro ou cinema doméstico de Carlos Guerra, as cavalhadas de José Torres, que atraiam as atenções do povo, sempre aos domingos, as grandes partidas de futebol do Botafogo( de Frederico Pontes ) e Brasília ( de José Gomes ), e de repente, hoje, toda essa beleza morreu, nem os jornais editados em nossa cidade, como o Porta-Voz de Nilo Amorim, Jornal da Noite de um grupo de jovens, A Época de Salviano Machado, depois pertencendo a Antonio Bertino, é triste hoje vivemos um triste momento, uma cidade SEM VIDA, desprovida dessas coisas tão boa.

3º- BEZERROS HOJE – A internet tem mudado os hábitos dos novos leitores. A imprensa impressa tem sentido o baque mundialmente e a tendência é que muitos periódicos deixarão de circular. Como o senhor avalia essa nova plataforma de comunicação? A cultura perde com essa mudança?

PROFESSOR RONALDO – Enquanto os jornais interioranos forem editados se pensando em lucro, irão afundando, o jornal do interior é um instrumento cultural, bem informando à sociedade, tem-se que solicitar das forças econômicas – comércio e indústrias -, fazendo suas publicidades, aí sim, terá condições de sobreviver, mas, antes de tudo, terá a necessidade de muita garra. A cultura direcionada pela internet, na verdade tem um limite, não alcança um universo, pequena parte ganha o benefício, mas não oferece oportunidade de vc ler algo importante em longo prazo, ao contrário do jornal, ele está ali, no arquivo, a qualquer momento temos a nossa disposição.

4º-BEZERROSHOJE- Bezerros é uma cidade ainda com vários prédios arquitetônicos, mas, vez por outra, assistimos passivamente a transformação de faixada desses prédios. Há uma lei que trata da preservação desses patrimônios mesmo sendo de propriedade privada? Quem é negligente nesses casos?

PROFESSOR RONALDO- Vejamos com as coisas tornam-se engraçado, o Instituto de Estudos Históricos, Artes e Folclore dos Bezerros consta na Lei Orgânica do município dos Bezerros com a missão de proceder ações na área de proteção ao patrimônio, como consta no Capítulo III – da Educação, da Cultura, do Desporto e do Lazer, Seção I – Da Educação, no Art.117 que diz – “O Instituto de História de Bezerros fica considerado de utilidade pública a partir da promulgação desta Lei Orgânica”. No parágrafo único diz – “O tombamento e a proteção do patrimônio histórico ficará sob a responsabilidade do Instituto de História de Bezerros”. Os legisladores só se preocuparam em repassar a demanda de defender o patrimônio ao Instituto, mas esqueceram que para essa finalidade o Instituto necessita de uma série de requisitos para cumprir a missão, advogado, engenheiro, e o principal, verba para o custeio da demanda. É engraçado, parece que tudo é fácil, mas o mais necessário não apresentam.

5º- BEZERROSHOJE-  Bezerros e Caruaru tem praticamente as mesmas datas de emancipação política, apenas 13 anos as separam no calendário. O senhor costuma dizer que Bezerros já foi o odeon do agreste (pelas publicações) e que tinha sua paróquia (freguesia) desempenhando uma grande influência em toda a região. É possível fazer uma analise paralela do desenvolvimento dos dois municípios. Por que ficamos tanto para trás? 

PROFESSOR RONALDO – BEZERROS x CARUARU – ainda acrescento GRAVATÁ, que foi nosso Segundo Distrito, e em 1881 a Lei 1560 de 30 de maio, cria a Vila de Gravatá, sendo emancipada em 1883, instalada no dia 9 de janeiro de 1883. Faço esta citação para, juntarmos CARUARU / BEZERROS e GRAVATÁ, e a partir daí, estudarmos os desenvolvimentos dos três. Vamos inicialmente ver CARUARU, cuja sociedade sempre demonstrou uma tendência bairrista, e os políticos – cujos grupos sempre foram rivais ao extremo, mas cumprem uma política progressista – exemplo – o prefeito X constrói uma praça em um determinado bairro – quando o adversário assume, procura fazer uma melhor, em outro local, assim, pouco a pouco a cidade vai ganhando na sua aparência; enquanto isso, aqui em nossa terra, se faz algo, quando o adversário assume, desmancha e faz outra coisa no local, é o que temos visto, quantas vezes a praça Duque de Caxias – ou da Matriz – foi desmanchada? Sinceramente, é inacreditável!!! O fator Gravatá é bem diferente, os prefeitos teem mostrado interesses na melhoria da cidade, cresceu, o investimento particular também influiu, aliás, o que agora está acontecendo com nossa Bezerros.

6º-BEZERROSHOJE-O Senhor concorda com a afirmativa que o ex-prefeito Lucas Cardoso (já falecido) deu uma identidade ao município de Bezerros?

PROFESSOR RONALDO – Na verdade, na área turística o Dr. Lucas abriu uma grande estrada para o turismo, através dos grupos carnavalescos, o carnaval, Bezerros explodiu. Hoje estamos assistindo como nossa terra está conhecida no sul do país. Uma forte referência sem dúvida!

7º BEZERROSHOJE- Na sua opinião, o que falta  para nos restabelecermos de vez em nossa região como a história já nos conferiu? Os nossos políticos têm tido essa preocupação?

PROFESSOR RONALDO – Os políticos em geral não fazem milagres, a nossa mudança está na cultura do povo, um time de futebol não vence uma partida só dependendo de um jogador, a equipe é quem pesa POVO-GOVERNO-POVO, aí está a solução para nosso desenvolvimento, partidarismo só tem um – BEZERROS!

8º-BEZERROSHOJE – O Sr. está concluindo o 3º Volume do Livro, Bezerros Seus Fatos e Sua Gente, tratando mais dos assuntos contemporâneos. Fundou o Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore de Bezerros e a Academia de Letras, Artes e Ofícios Municipais de Pernambuco. Isso demonstra a sua preocupação para a preservação da nossa história. O Sr. formou alunos nesse sentido?

PROFESSOR RONALDO – Hoje não dispenso o meu título, que o tenho com orgulho – PROFESSOR – uma prova está aí, no Facebook, no Livro Aberto, mantenho AULAS DE HISTÓRIA MUNICIPAL ( Bezerros ), lembro-me que na Escola Getúlio de Andrade, assim que adentrei, com a Diretora da época , Professora CONCEIÇÃO LUCENA, fundamos um Grêmio estudantil, justamente para incentivar os alunos ao diálogo, apresentar suas idéias, incentivar a leitura, buscar respostas, e hoje, mesmo fora das salas de aulas, sempre estou, gratuitamente, fazendo palestras nas nossas escolas, só assim, mudaremos e veremos a vida com mais responsabilidade.

9º-BEZERROSHOJE- Suas considerações finais…

PROFESSOR RONALDO – Quero agradecer a você Flávio Melo, e dizer que o terceiro volume de nossa história está se vestindo, espero que, como temos pessoas bem capazes, surjam novos historiadores, que procure-se zelar pela documentação hodierno, caso contrário vai ser difícil coletar dados da atualidade, para daqui a cinquenta anos se escrever a HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA!!!!!

Bezerros/PE., 20/08/2015. 00.08hs.

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