Linhas férreas ocupadas de forma irregular no Agreste

Linhas férreas ocupadas de forma irregular no Agreste

As estações de trem de Caruaru, Bezerros e Gravatá, no Agreste pernambucano, não têm mais o entra e sai de passageiros que, no passado, eram transportados pela Linha Tronco Centro. Mas continuam de portas abertas, com atividades culturais. Se as edificações estão preservadas, apesar das descaracterizações para receber novos usos, o mesmo não se pode dizer das estradas de ferro. Os trilhos estão sumindo nas três cidades, seja por ocupações irregulares ou aterrados para dar lugar a carros.

Em Caruaru, pedaços da linha férrea por onde os trens de carga levavam até a capital a produção econômica da região – tabaco, mandioca, algodão e couro – encontram-se sob o piso de casas construídas ou em construção no bairro Cajá. Moradores informam que os imóveis pertencem a famílias pobres e sem condições de pagar aluguel. Segundo eles, trilhos arrancados foram reutilizados em lajes e colunas de moradias. Alguns servem de passarela entre as casas.

“Todo dia passava trem de passageiro e de carga aqui em Caruaru, mas desmantelaram tudo e ficou essa bagunça, com casas em cima da linha e trilhos cobertos com asfalto, para as pistas de carro”, declara Maria Júlia da Silva, 64 anos, moradora da cidade. “Nunca andei nas locomotivas, mas via as máquinas circulando perto da minha casa. Acho que as linhas deviam ser reativadas. Caruaru ficou um deserto sem os trens”, diz.

Operador de máquinas aposentado, João Costa da Silva, 71, lamenta o desmonte da ferrovia. “Desativar as linhas foi a maior covardia com o povo, isso não era para estar se acabando desse jeito. Quando as cargas deixaram de ser transportadas por trem, que é um serviço mais barato, o preço de tudo subiu. Hoje, tem lugar que não se sabe mais onde ficava a linha”, destaca João.

Na cidade de Bezerros, os trilhos próximos da estação estão parcialmente soterrados ou servem de estacionamento. Um trecho da linha, junto da ponte férrea sobre o Rio Ipojuca, está destruído e pendurado. “A estação é o patrimônio que sobrou em Bezerros, arrancaram muitos trilhos”, diz o ferroviário aposentado Paulo Pedro da Silva, 66. Ele trabalhou por 21 anos e cinco meses para a RFFSA, na manutenção da via.

Paulo mora na antiga casa do chefe da estação, defronte ao prédio da esplanada. “Comprei da Rede Ferroviária, a empresa vendeu casa em várias cidades. Nunca esqueço essa parte da minha vida, toda vez que olho o prédio da estação, tenho recordações. Não progredi para uma função melhor, porém gostava do meu trabalho. Minha maior alegria seria a volta do trem, mas não tenho esperanças”, afirma.

Fonte: Dárcio Rabelo

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