“…há um descolamento da realidade muito grande entre os dados da festa – divulgados sempre para fora de Bezerros – e o que nós, comerciantes e o povo, presenciamos”

Estive acompanhando a última assembleia na Câmara de Vereadores de Bezerros e o balanço dos nossos representantes sobre o Carnaval. Acredito que a proposta do vereador de eventualmente restringir o acesso de coolers na festa já é, por si só, admitir o quão ruim foi o carnaval para os comerciantes – formais ou informais. A medida não é “impopular”, é irrealizável. Também há um descolamento da realidade muito grande entre os dados da festa – divulgados sempre para fora de Bezerros – e o que nós, comerciantes e o povo, presenciamos.

Foi ruim. Faltou planejamento e organização na execução. Ao que parece, superestimaram a oferta de patrocínios, além de ter seus editais lançados tardiamente. Qualquer empresa com potencial de patrocinar precisa de tempo para executar uma proposta! Quem patrocina quer conhecer a grade, lançar publicidade, produzir materiais para ações de marketing… Isso é básico!

Sobre o baile, já pontuei: festa privada entregue à exploração de iniciativa privada que, parece, não tinha expertise na realização de um evento desse ( não temos como saber, pois não houve transparência sobre os critérios de escolha dessa empresa).

O carnaval em geral não contemplou os artistas e artesãos locais e o público que compareceu porque a festa é do povo, feita pelo povo. Poderia não ter nada, mas a cultura dos papangus e o amor às tradições cultivadas por gerações se sobressairia. Mas não dá pra ostentar o título de melhor carnaval do interior de Pernambuco sem sustentar o mínimo da estrutura que já existia. Gente, os papangus desceram sem orquestra no domingo! Na segunda e na terça de manhã, na São Sebastião, não tinha sequer um batuque de lata até o começo da tarde. O que as pessoas fariam no local sem ter o que ver? Lógico que os comerciantes dali e da Centenária ficaram prejudicados!

Blocos de times não saíram por falta de comunicação e de responsabilidade da gestão do Turismo. Se queriam mudar ou readequar o processo, no mínimo, tinham que comunicar aos organizadores.

Até “desomenagearam” uma artista em detrimento de outra ao rebatizar o nome de um polo! Ambas merecem, isso não se contesta, mas é deselegante demais fazer isso. E ainda renomearam o polo com um nome que em nada alude ao carnaval (Forró Eletro)!

A decoração aparentava ter sido feita com o que sobrou, e vi pessoas com a farda da prefeitura, com toda boa vontade, trabalhando nisso, o que parece inadequado, já que uma empresa seria muito bem paga para essa finalidade. E não foi exatamente atraso da empresa: é que o processo licitatório também encerrou tarde. Se desse licitação vazia, se alguém impugnasse, quero nem pensar!

A programação foi divulgada de última hora, dificultando e até mesmo impossibilitando a organização de caravanas de turistas e do próprio folião local, sem contar os buracos na grade durante o próprio evento. Remanejar atrações por choque de horário NO DIA da apresentação faz crer que ou não havia contrato ou a atração não priorizou Bezerros, o que é improvável dadas as dimensões e fama do nosso carnaval. E até arquibancada interditada por motivos de insegurança teve, o que teria sido contornado se houvesse tempo pra reinstalar (lembrando que o serviço custou dinheiro, e não é barato).

Enfim, a impressão que fica é que foi tudo feito por gente que, embora possa ser competente tecnicamente, não conhece as dimensões e especificidades do terceiro maior polo do estado de Pernambuco, que, por sua vez, é um dos maiores polos do Brasil, com projeção internacional.
Senti falta ainda de um camarote exclusivo para pessoas com necessidades especiais.
A sensação que fica é de uma tentativa de desmerecer tudo que foi construído por outras pessoas talvez porque tenham atuado em gestões anteriores, contrariando o próprio slogan da festa (“Aqui tem história”). E o povo que construiu essa história esteve em que posição nessa festa?

De positivo, achei a participação do povo, o empenho das equipes operacionais pra fazer acontecer, mesmo aparentemente sem um norte, a segurança reforçada pelo Estado e o espaço família com fraldário, que foi inovador. Destacaria ainda a grade de atrações eclética e inovadora, o empenho das equipes de trabalho da Prefeitura (cada pasta, a seu modo, ofereceu sua contribuição), a coragem dos empreendedores de, mais uma vez, acreditar e investir na cidade, a despeito das altas taxas cobradas pela comercialização, da falta de apoio e estrutura, e a ornamentação que os moradores fizeram em suas residências, que deram o colorido da festa, já que a decoração na cidade não teve muita projeção.

A prefeita é inteligente e só não ajustará esses pontos a melhorar em outros eventos se não quiser.

Feliz 2023!

Janaína Pereira

Share