A doença está em quem propõe a cura

O inicio da semana me marcou profundamente com a notícia de que o Juiz Waldemar Claudio de Carvalho, do Distrito Federal, decidia por manter a resolução de 1999 que tratava a homossexualidade como doença e permitia a prática de tratamento reversivo para tal condição.

É de impressionar a tamanha falta de discernimento de muitos no tocante a uma questão que há muito já deveria ser superada. A homossexualidade existe e não é de hoje. Ela é uma característica de muitos seres humanos, assim como a heterossexualidade. E portanto deve ser estritamente respeitada e merece direitos, não por ser diferente do que se deseja, mas por se tratar de um ser humano.

Não vejo ninguém se incomodar porque fulano ou beltrano não gosta de comer chuchu, brocólis ou beterraba, mas também não vejo ninguém incentivando ou ensinando a se comer as mesmas. Comer ou não comer estes alimentos não interfere em nada no que a pessoa representa na sociedade nem seus valores. Da mesma forma é (ou ao menos deveria ser) com a homossexualidade.

Se a homossexualidade é uma doença, então porque ela não mata? O que percebo é que quem morre geralmente é assassinado por ser homossexual.

Mas vamos lá, para uma análise de quem se incomoda com a homossexualidade. Muitos deles são intolerantes com as diferenças e acham que o mundo deve seguir uma bula que foi descrita sabe-se lá onde. Muitos vão utilizar discursos religiosos e tal, mas não foi o próprio Cristo quem mais respeitou as diferenças sem as recriminar ou rechaçar? Ou vai me dizer que estes que seguem o padrão heteronormativo e que se dizem supostos homens de Deus aprenderam com este que se deve achincalhar, apedrejar, homofobizar, espancar e até matar os homossexuais? Pelo pouco que conheço acredito que não existe nenhum ensinamento religioso que aprove ou divulgue o que a maioria dos contrários a homoafetividade fazem.

Muitos irão dizer que ao ver casais homoafetivos nas ruas se acariciando ou andando de mão dadas se estará disseminando uma cultura gay para a sociedade e as crianças. Mas porque estas mesmas pessoas não pensam que se pode com isso ensinar as crianças que o amor quando existe é maior que quaisquer outra coisa, e que independe se é homem com homem, mulher com mulher, mulher com homem? Sabe porque não pensam assim? Porque para muitos deles o correto é ensinar que a mulher foi feita apenas para reproduzir e ser submissa ao homem; é ensinar que o filho deve iniciar sua vida sexual em prostíbulos sem sequer respeitar a vontade natural do mesmo+ é ensinar que o homem pode trair, mas se a mulher fizer o mesmo ela será vulgarizada, e etc. É essa a pedagogia correta?

Declaro todo meu respeito aos casais homoafetivos e a minha mais alta indignação com os “pseudomoralistas de plantão”.

Para concluir, esta notícia me fez rememorar a obra literária O Alienista, do escritor realista Machado de Assis, e finalizo de forma comparativa a obra, acreditando veementemente que a doentes não são os homossexuais, mas sim aqueles que os apedrejam.

SE TRATEM!

Mikhail Gorbachiov é Cientista Social pela UFPE

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