Somos um fracasso

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Vital Belarmino Pontual é jornalista e autor do livro “Escobar Júnior e a cobertura da VEJA aos atentados de 11 de setembro de 2001

Em outros tempos já fomos bons nisso, hoje porém, mostramos nossa fraqueza perante os olhos do mundo. Em 1950, quando perdemos a Copa dentro de casa para o Uruguaio, a realidade à nossa volta era outra. Ainda tínhamos o melhor futebol do planeta e quase ninguém demonstrava a intimidade com a redonda como nós. Surfávamos na crista da onda, embora tivéssemos perdido. Faz parte do jogo.

Perdemos o posto de melhores e já não encantamos mais. Jogamos um futebol ultrapassado, sem nenhuma criatividade. Um esquema tático carcomido. Temos uma seleção de uma defesa que não defende. De um meio de campo que não combate e de um ataque que não faz gol. Perdemos dentro do campo e fora dele. Quando dizemos “fora dele”, estamos a falar dos nossos nobres dirigentes que mandam e desmandam no meio futebolístico. Esses merecem todas a críticas.

Somente o Sobrenatural de Almeida, personagem de Nélson Rodrigues, poderia explicar melhor o que aconteceu na terça-feira passada à nossa seleção, mas é bem provável que se se fizer uma análise mais acurada do que acontece agora no futebol brasileiro, chegar-se-á logo a uma conclusão não muito favorável aos dirigentes da CBF e a seus apaniguados. Todos têm culpa no cartório, inclusive alguns setores da mídia tupiniquim, inseridos nela aqueles jornalistas “amigos da seleção”.

O que se viu ao longo da Copa foi a exibição de um nacionalismo exacerbado e ridículo da maior parte da imprensa, que o diga a Rede Globo, incapaz de tecer uma crítica à seleção e aos mandachuvas do futebol nacional. Também pudera! Ela sempre carregou consigo uma parcela de culpa desse tenebroso fracasso em que se encontra o futebol hoje no Brasil. Só os incautos ainda acreditam nas boas intenções desse jornalismo canalha e cafajeste que se pratica por aqui.

Quem em si traz um grão de senso crítico, percebia que o time de Felipão tinha enormes limitações em sua constituição. Contudo, o meio conservador do jornalismo esportivo fazia vista grossa quanto às críticas. A hora é de se perguntar: a quem eles estavam querendo agradar? Jogar toda a responsabilidade aos jogadores é no mínimo ser incoerente. Claro está que eles também têm uma parcela de culpabilidade por esse vexame, mas outros culpados estão por aí às solta, rindo de tudo isso e já pensando na outra Copa e em seus dividendos.

Precisamos com urgência reformular o futebol no Brasil. Há muito que necessita de uma boa faxina, a começar pela CBF. Não bastou sair Ricardo Teixeira e entrarem José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Trocaram seis por meia dúzia. Esses dois terminarão de piorar aquilo que já não prestava. Chegou o fim da era Felipão e Parreira. Não que os dois sejam maus caracteres, mas a filosofia de ambos acerca do futebol já está démodé. Os demais, que vão ao diabo, inclusive boa parte da mídia brasileira.

Em tempo: quem assistiu ao jogo entre a Argentina e a Holanda, há de ter percebido que o narrador Cléber Machado, da Globo, torceu durante toda a partida pela derrota dos argentinos. Esse é o nosso jornalismo. Viva o Brasil.

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