“…Ou a oposição passa a conversar de forma transparente entre si ou teremos uma eleição pulverizada”

13048109_10207568056497566_4870099480083325454_oO nosso 50º entrevistado da série que levamos ao ar todos os sábados é o bezerrense Marconi Andrade, 25 anos, Bacharel em Administração pela UFPE, Gestor Administrativo Financeiro numa empresa privada do campo das telecomunicações, filho de Ana e Marconi e irmão de Núbia Andrade.  Marconi foi locutor da Rádio Maria FM entre 2006 e 2008, foi militante das causas estudantis no município, no movimento que reorganizou a UESB em 2009 e militou na UFPE – Caruaru, nas eleições para o DCE da universidade e na eleição do reitor Anísio Brasileiro. Foi filiado ao PCdoB de 2006 a 2015, partido pelo participou como militantes dos pleitos de 2006, 2008 e 2010 e sempre se posicionou a favor das forças de esquerda. O bezerroshoje, na entrevista que segue, procura saber mais sobre os posicionamentos em relação a temas nacionais e municipais, mostrando a importância da politização dos jovens. Segue a entrevista:

BEZERROS HOJE- Você tem se posicionado sobre temas da política nacional em sua rede social de forma ponderada. A razoabilidade presente em seus posicionamentos o destaca entre alguns militantes de esquerda em Bezerros, que, geralmente, são ‘extremistas ao quadrado’. Como conviver com a opinião contrária, mesmo você tendo sua ideia formada?

MARCONI ANDRADE – Nós estamos passando por um momento politico muito delicado, há pelo menos 2 anos… E precisamos ter a capacidade de entender a nossa função pública enquanto cidadãos, servidores, políticos, imprensa… Acirrar as posições, causa um desgaste desnecessário e assim acabamos queimando pontes que serão importantes para a reconstrução politica nacional, o nosso desafio maior é encontrar um ponto de equilíbrio que fortaleça as instituições, busque o respeito aos dispositivos constitucionais e dê condições de as mais diversas correntes políticas divulgar suas ideias, seus projetos, seus anseios… a polêmica do debate tem de existir por ser condição primária para o fortalecimento da democracia, mas o respeito é essencial para que possamos continuar conversando…conviver entre ideias contrarias nos faz ter a curiosidade de entender outras formas de pensar e isso resulta em ampliação de conhecimento.

BEZERROS HOJE- A esquerda no país teve avanços importantes nos governos Lula e Dilma, quando o assunto é bandeiras minoritárias. Ninguém ousa discordar de programas sociais, como aos que contemplam o acesso à universidade, a ampliação dos programas sociais, entre outras conquistas. O erro talvez tenha sido misturar essas bandeiras com o populismo e por isso a descrença da sociedade? Qual sua análise crítica?

MARCONI ANDRADE – Analisar esse projeto nesse momento em que ele passa por uma turbulência gigantesca e expõe de forma muito cristalina todas as suas mazelas, pode dar um viés de fim de festa a uma série de mudanças provocadas pelos governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma…e que já conseguimos observar como conquistas consolidadas, que já dão frutos importantes, é só pegar o gancho da universidade pública e pedir para que as pessoas façam uma observação a seu redor…há 13 anos atrás quantas pessoas que você conhecia estavam cursando o ensino superior numa universidade publica? Quantas hoje? É espetacular observar que hoje em Bezerros, temos Administradores, Biólogos, Engenheiros civis, Engenheiros de produção, Enfermeiros, Economistas, Nutricionistas, Designers, Pesquisadores do ambiente acadêmico e outros tantos… com trabalhos relevantes nas mais diversas áreas… filhos da universidade pública, filhos do Prouni… filhos desse investimento que democratizou o acesso a universidade e melhora qualitativamente o quadro de profissionais que estão no mercado. Nosso perfil demográfico já mudou e a tendência é que mude muito mais.

Sobre a crítica, precisamos ter muito claro que o PT errou, que o PT precisou se aliar a tudo que sempre combateu e que por coerência o PT tinha a obrigação de ser diferente, isso é um fato e deve ser enfrentado de pé, com uma reconstrução também do PT…Mas me permitam ampliar a crítica e pontuar o quão falido está o nosso sistema politico eleitoral e criticar também a postura do PT ao deixar a onda da popularidade passar e não ter tido a capacidade de propor uma reforma politica completa e aproveitando o apoio popular que detinha…propor reforma politica com o congresso atual, com o quadro econômico atual e com a rejeição que o PT anda sofrendo, não surtirá efeito…nesse quesito precisamos do envolvimento total da população, de quem bateu panela a quem defende o retorno de Dilma…a reforma politica hoje deveria ser a nossa bandeira do dia-a-dia. Uma constituinte exclusiva, com parlamentares isentos, grupos de trabalho com notáveis de nossa sociedade, de nossa academia… finalizando os trabalhos esses não poderiam se candidatar por pelo menos 8 anos para que não se beneficiasse da legislação que eles mesmos haviam produzido. Sonhar ainda não custa e eu tenho uma fé muito grande que tudo isso que vem acontecendo na cena nacional vá incomodar nosso povo a ponto dele assim como em 2013 ir às ruas para pressionar uma mudança concreta.

BEZERROS HOJE- A política bezerrense parece ficar à margem dessa discussão nacional. Dia desses a Câmara de Vereadores de Bezerros preferiu omiti o termo Identidade de gênero do projeto sobre os planos para a educação. Como você analisa essa omissão?

MARCONI ANDRADE – Raros são os exemplos de políticos em Bezerros que possuem a envergadura de compreender a conjuntura nacional e incluir nossa cidade nesse âmbito de discussão. O mundo está em mudança constante e nós não podemos permitir que Bezerros fique a margem das mudanças, dos avanços, dos novos conceitos e das novas maneiras de abordar os diversos assuntos. Mas precisamos também enquanto sociedade civil tomar nossa posição, participando ativamente dessas discussões que chegam até a câmara de vereadores, precisamos de uma campanha de conscientização forte…escolas, igrejas, ong’s, associações de bairro tem a obrigação de estimular a população a acompanhar as reuniões da câmara, aferir a produtividade de nossos legisladores e não apenas esperar que eles cheguem em nossas portas nos períodos eleitorais com os discursos afiados prontos para conquistar o voto novamente. A população tem que ser orientada a ver o politico como ferramenta para o desenvolvimento da nossa cidade, ele não é seu amigo ou seu inimigo, não é bonzinho ou carrasco…ele é o representante do povo e precisa produzir para o povo.

BEZERROS HOJE- Você militou no campo da esquerda em Bezerros, mas parece ter se voltado aos seus projetos pessoais. Por que o desalento?

MARCONI ANDRADE – Tive o prazer de militar ao lado de grandes pessoas, grandes amigos, gente de bem e com muitas ideias para Bezerros e aqui faço questão de destacar algumas pessoas como: Severino Robervaldo, Cristiane Soares, Geandre, Mariana Helena, Raimundo Ferreira, Mikhail Gorbachiov, João Carlos Santos, José Francisco Junior, Máximo Neto, Samuel Domingos… entre tantos outros tão importantes quanto os citados. A vida se encarrega de mudar o rumo que vamos tomar, além da necessidade que tive de buscar meu lugar no mercado de trabalho e precisei fazer como muitos Bezerrenses e buscar desafios fora das fronteiras de nossa cidade. Mas não abandono minhas convicções, meu espirito militante só mudou de ambiente, por uma questão de não está presencialmente em Bezerros com a mesma frequência de antes, busquei a alternativa das redes sociais para expor aos amigos algumas opiniões e me sinto feliz quando vejo a interação das pessoas. Não aponto desalento…pelo contrário, continuo conversando com as pessoas, continuo procurando me informar como andam as coisas por aqui, com a mesma empolgação de quando comecei, claro que com um pouco mais de paciência e maturidade para compreender as coisas.

Nosso quadro municipal, não difere muito do que o país passa…a ausência de novas lideranças com a capacidade de ascender a esperança nas pessoas e criar uma expectativa de que dias melhores estão por vir, mas mesmo assim tenho a visão otimista que vamos crescer muito enquanto sociedade, quando esse quadro de crise for estabilizado.

BEZERROS HOJE- O atual governo municipal conseguiu unir vários palanques. Como você analisa essa conjuntura política governista?

MARCONI ANDRADE – Desde 2012, o prefeito Branquinho mostrou a capacidade de articulação politica que tem. Você parar para observar que estavam em um mesmo palanque Gloria Cardoso e Marcone Borba, isso por si só já deu um nó na cabeça dos adversários na época, a população entendeu o recado, aceitou a ideia de união e deu a Branquinho a maior vitória política da história de Bezerros. E hoje o prefeito chancela sua capacidade de aglutinar forças, unindo a sua base de sustentação, Dael, esposo da ex-prefeita Bete Lima, adversária derrotada por Branquinho em 2012…um movimento de grande ousadia e que mais uma vez aplica outro nó na cabeça da oposição em Bezerros.  Estrategicamente, o movimento foi correto!

Politicamente, cabe ao prefeito ou ao seu candidato convencer que fez o movimento correto, ao eleitor que votou em Branquinho em 2012 para derrotar o projeto que Bete e Dael representavam naquele momento, esse é o grande desafio do grupo governista no pleito desse ano. As pessoas estão em momento em que elas precisam entender o porque das coisas, movimentos bruscos para causar impacto as vezes pode causar efeito contrario se não for posto de forma transparente…mas, vamos aguardar qual julgamento a população fez desse fato.

BEZERROS HOJE- As oposições em Bezerros estão cada vez mais em discordância. São três pré candidaturas postas, o que só facilita a vida do governo. Não estaria faltando desprendimento das lideranças para uma unidade no campo oposicionista? Por que os interesses pessoais sempre estão acima dos projetos coletivos na política local?

MARCONI ANDRADE – Acredito que todo cidadão que goze de seus plenos direitos políticos, tem a livre escolha de ser ou não candidato. Na verdade, desde 2013, nós não conseguimos sentir propriamente que existia oposição ao governo Branquinho. Brizola dizia que ao perder uma eleição ele ia para casa lamber as feridas e se preparar para novas batalhas…você não precisa lamber as feridas de uma eleição perdida durante 4 anos, mesmo porque nosso calendário eleitoral dá a oportunidade dos agentes políticos aparecerem a cada dois anos em cima de palanques. O que houve em 2014? Porque as oposições não se colocaram na rua já nesse momento? Eu lembro muito bem em 2010 como nós que fazíamos oposição ao governo Bete, aproveitamos bem o momento politico para marcar posição. Antes de tudo…a oposição precisa de uma estratégia! Hoje na oposição eu vejo unicamente o PSOL com uma estratégia muito bem definida: irão cumprir o que rege o estatuto do partido e pronto. Ninguém espere que desça do céu um emissário divino que irá ungir um candidato…porque ele é bonito ou feito, preto ou branco, gordo ou magro…ou a oposição em Bezerros, passa a conversar de forma transparente entre si, ou teremos uma eleição pulverizada…com 4 ou 5 candidatos, sem projeto viável para se contrapor a gestão do prefeito Branquinho.

BEZERROS HOJE- Se “todo poder emana do povo”, o que fazer para que os cidadãos possam escolher melhor os candidatos numa eleição?

MARCONI ANDRADE – Nós precisamos de dois movimentos: Estimular que as pessoas boas participem da politica e votar nessas pessoas que estamos estimulando a entrar na politica. Estou falando uma obviedade, mas não é por mal…é porque eu vejo o movimento de partidos convidando diversas pessoas de bem, estimulando a candidatura, pura e simplesmente para que esteja garantida a cauda eleitoral de alguns poucos…isso é politica rasteira! Nós precisamos da sociedade demandando as suas necessidades e estimulando seus lideres populares:  professores, trabalhadores, líderes comunitários…a disputarem eleição, ampliarem o debate a cerca das necessidades do nosso povo, seja um serviço publico de melhor qualidade, seja desenvolvimento econômico, buscando geração de emprego e distribuição de renda, seja a preservação de nosso meio ambiente…e aí nós temos a questão da Serra Negra para tratar com muito cuidado, mas também com urgência…enfim, pautas não faltam!

BEZERROS HOJE- Suas considerações finais…

MARCONI ANDRADE – Quero agradecer o espaço cedido, onde agradeço na pessoa do meu amigo Flavio Melo, diretor do Bezerros Hoje e um cara de vanguarda na nossa imprensa. Espero que minhas respostas tenham sido claras e oportunas e queria fazer um grande chamamento para que continuemos discutindo política, que mais espaços como esse sejam abertos a tantos outros bezerrenses tenham a oportunidade de expor suas ideias. Um grande abraço a todos!

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