O SUS EM BEZERROS, POR ANDERSON TORREÃO

Anderson TorreãoConforme tenho colocado várias vezes em pronunciamentos públicos, a organização do SUS em Bezerros está longe de um ideal, do que desejamos e do que a nossa população merece. Foi justamente a partir do reconhecimento desses problemas que, ouvindo a população através de uma conferência, construímos um plano de saúde que tem a intenção de, nos próximos anos, “recolocar nos trilhos” a trajetória do SUS em Bezerros, com foco na busca pelo respeito e qualidade que o cidadão tem direito. Dessa forma, nós não temos o hábito de “empurrar a poeira pra baixo do tapete”, pois partimos justamente do reconhecimento da existência dessa “poeira”. Mas, há que se entender que a “poeira” acumulada durante tantos anos, por falta de compromisso, transparência e profissionalismo na gestão, não pode ser totalmente retirada em alguns anos. Precisaremos fazer isso juntos, governo e população, construindo o sistema de saúde que desejamos a partir daquele que temos.
Uma coisa é certa: será impossível fazer tudo ao mesmo tempo porque os recursos são limitados. Daí a importância de termos um planejamento, mas não um planejamento somente para o nosso governo, mas sim para o SUS. Dessa forma, precisaremos priorizar algumas questões, sendo que escolhemos, dentre as principais, a questão da infra-estrutura das unidades de saúde do município que é incompatível com o que podemos considerar respeitoso para o cidadão, prejudicando também a qualidade do serviço prestado pelos trabalhadores. Foi por essa razão que colocamos em nosso planejamento a busca por recursos para que possamos revitalizar e reorganizar todas as nossas unidades. Começamos a entregar à população algumas novas estruturas que se configuram como um espaço digno aos cuidados em saúde, tanto para o cidadão como para o trabalhador. Dentre elas, podemos citar a Clínica da Mulher e as unidades básicas de Gameleira e de Sapucarana. Mas ainda há muito o que se fazer. Iniciamos as obras para implantação da UPA e do novo Centro de Reabilitação. Está programado para iniciarmos nos próximos dias a obra do Laboratório público 24h, cuja licitação já está concluída. Além disso, captamos os recursos (o dinheiro já está em conta) para iniciarmos as seguintes obras: construção da unidade básica do Santo Amaro, reforma das unidades básicas de Serra Negra, Cajazeiras e Areias, implantação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e a reforma e ampliação da Unidade Mista São José. Tais investimentos nessas unidades representam um montante de 6 (seis) milhões de reais, o que demonstra o alto grau de prioridade que nossa gestão tem dado à revitalização dos serviços de saúde.

Entretanto, mais do que investir na revitalização dos serviços de saúde, precisamos priorizar com firmeza o aumento de qualidade do atendimento, que é influenciada também por essa estrutura, mas envolve outras variáveis importantes. Dentre elas é preciso citar três que considero mais essenciais: 1) a consolidação de uma gestão focada em resultados e na meritocracia; 2) a efetiva participação social; e 3) um financiamento compatível com a adequada manutenção do sistema em nível local. Em que pese a dura crise de financiamento que abateu o SUS em todo o país, e que por si só seria tema para uma reflexão bastante aprofundada, gostaria de explorar mais nesse momento os dois primeiros pontos. Não alcançaremos níveis maiores de qualidade no sistema de saúde se insistirmos num modelo de gestão que não se preocupa em compartilhar as responsabilidades com os trabalhadores, construíndo pactos em torno de resultados efetivamente percebidos pela população e, preferencialmente, mensuráveis. Da mesma forma, somente avançaremos se o modelo de gestão possuir o mérito como forma de valorização desses servidores (criando políticas de remuneração variável ou de reconhecimento público ao servidor que executa bem o seu trabalho), e ainda se criarmos as condições de ouvir sistematicamente a população usuária do sistema de saúde, considerando as efetivas contribuições que possam nos ajudar a melhorar o trabalho dos nossos profissionais.

E o que estamos fazendo nesse sentido? Bom, temos feitos avanços que considero importantes nesses aspectos, aperfeiçoando nossa condição de monitorar e avaliar os resultados alcançados por nossa rede de saúde. Para não me estender excessivamente em esclarecimentos técnicos que não vêm ao caso neste momento, é suficiente afirmar que esse aperfeiçoamento tem a ver com mudanças no modo de fazer gestão, e que essas mudanças têm nos permitido alcançar alguns números significativos como resposta de nosso SUS:

– 9.000 consultas médicas realizadas a cada mês;
– 45.000 unidades de medicamentos distribuídos gratuitamente a cada mês;
– 2.500 atendimentos odontológicos a cada mês;
– 20.000 visitas domiciliares de ACS e ACE a cada mês;
– 120 atendimentos do SAMU a cada mês;
– 4.000 unidades de vacina aplicadas a cada mês;
– 200 ações de vigilância sanitária a cada mês;
– 40 animais que representam risco à saúde apreendidos a cada mês;
– 300 usuários com acesso garantido ao tratamento fora de domicílio (TFD) a cada mês;

Essa é uma pequena amostra do que esse enorme sistema de saúde faz a cada mês. E não estamos contando aqui os milhares de procedimentos ambulatoriais (aplicação de medicamentos, nebulização, curativos, entre outros) que são ofertados diariamente nas unidades de saúde. Nosso novo modelo de gestão tem permitido que busquemos fazer mais e com mais qualidade a cada dia. Dizer que isso é o beabá, rotina ou coisa semelhante é esquecer-se que há bem pouco tempo atrás a maioria desse elenco de ações não estavam sendo regularmente ofertados, com interrupção dos serviços essenciais, justamente por falta de uma gestão compromissada e qualificada.

Mas, é impossível que um sistema que possui toda essa dimensão, com mais de 600 (seiscentos) funcionários, mais de 20 estabelecimentos de saúde, alguns deles abertos 24 horas por dia e 7 (sete) dias da semana, funcione permanentemente sem falhas. Seria ingenuidade imaginar tal situação, mesmo que um dia cheguemos a ter o melhor modelo de gestão possível. É preciso que a população seja nossa parceira, participando efetiva e construtivamente desse processo. Para tanto, estamos ampliando os canais de diálogo com a população (ouvidoria, redes sociais, conselhos de bairro, relacionamento com a imprensa), criando espaços dentro dos quais o usuário possa nos alertar do inadequado funcionamento de algum serviço, visando as correções necessárias. Entretanto, faz-se necessário que essa participação seja qualificada, com vistas à construção e não à destruição. Boa parte da crise que o SUS vive hoje diz respeito à desvalorização que nós, cidadãos, estamos lhe conferindo na medida em que alimentamos a propagação dessas ideias destrutivas. Se você deseja um sistema melhor, contribua com isso através de críticas construtivas. Nós iremos ouvir, com toda certeza.

Por fim, não posso deixar de registrar que me causa muito estranhamento o fato de que alguns políticos e lideranças comunitárias que ocuparam posições importantes na gestão municipal nos últimos anos estejam agora fazendo críticas através de redes sociais, rádios, blog’s ou eventos políticos sobre a situação do nosso SUS… Penso que se estamos com tantos problemas agora é porque durante anos o enfrentamento desses problemas foi negligenciado ou, no mínimo, foram enfrentados com amadorismo. Acho até interessante que alguns escrevam reflexões em redes sociais com soluções mágicas para todos os nossos problemas ou com indignações antes inexistentes, como se esses problemas fossem recentes. Porém, mais interessante ainda é a estranha coincidência que o momento seja tão oportuno para o aparecimento de tais reflexões e indignações, afinal o momento político-eleitoral tem que ser “aproveitado”. Para mim, esse tipo de conduta se apresenta como hipocrisia refinada, regada a politicagem, muito longe de ser uma real preocupação com a política pública de saúde. A essas pessoas, que diga-se de passagem nunca procuraram a Secretaria de Saúde para apresentar ideias construtivas, a nossa mensagem é a seguinte: preocupem-se menos em querer mostrar para as pessoas que vocês estão indignados ou preocupados com nosso sistema de saúde ou que são os detentores da soluções “mágicas” para o SUS… preocupem-se mais em contribuir efetivamente com quem apresentou um planejamento sério, transparente e focado na melhoria progressiva do SUS em nosso município. Estamos abertos a ouvi-los, mesmo que não pareça que seu interesse seja movido pelo espírito público. E se, por ventura, vocês não concordem com nossas ideias e propostas, sempre haverá espaço e tempo adequado para que possam apresentar suas próprias ideias à população e solicitar uma oportunidade para colocá-las em prática. Estas sim representam as boas práticas políticas numa sociedade democrática.

Anderson Torreão – Secretário de Saúde de Bezerros

(Rede Social)

Share

Leave a Reply