O crepúsculo do Jornal Nacional/POR VITAL BERLARMINO

Quem viveu nos anos oitenta, tinha o Jornal Nacional como principal fonte de informação confiável. À noite, depois do jantar, era comum as famílias se reunirem no sofá da sala para assistir ao telejornal. Todos esperavam com expectativa o boa noite inicial do apresentador. A Globo soprava ventos perfumados sobre a ditadura… Talvez seja esse o motivo por que muita gente ainda hoje sinta nostalgia daquele tempo…

Tem-se notícias de que nas redações de alguns jornais e revistas, o pessoal do meio jornalístico também se parava para ver o noticiário e só se retomavam os trabalhos quando acontecia o boa noite de encerramento. Quem nos diz isso é o jornalista Paulo Nogueira, jovem repórter à época da Veja. O Brasil todo parava. O JN tinha então setenta por cento de audiência , em média. Como se percebe, os Marinhos gozavam de um grande prestígio no jornalismo.

Na época da ditadura eu era uma criança e, portanto, não tenho muitas lembranças daqueles tempos não ditosos. A idade não me permitia discernimento dessas questões. Hoje raramente assisto ao JN, mas comumente tenho conversado com pessoas que viveram aquele momento de chumbo da história brasileira e elas são unânimes em dizer que a televisão dos Marinhos exibia uma país paradisíaco. Agora eles mostram um país em frangalhos. Como se percebe, eles são demasiadamente coerentes, para não dizer o contrário.

Já escrevi aqui outro dia que a audiência do JN vem caindo de maneira acentuada. Aí está a máxima: quem semeia vento colhe tempestade. Não é à toa que seus repórteres não conseguem mais fazer coberturas no chão com o microfone da emissora à mostra. Recentemente, pressionado, o Globo, jornal também da família Marinho, em editorial, disse que foi um erro ter apoiado a ditadura e pediu desculpas. Difícil é saber se alguém vai aceitá-las. É bem provável que mais adiante façam o mesmo com as bobagens que hoje falam e espalham país fora.

 Talvez fosse o caso de argumentar aqui a qualidade técnica do JN que deixa a desejar faz tempo, porém não é apenas essa a razão do seu declínio. Em seu horário de exibição, muita gente está plugada à internet e isso muito provavelmente tem contribuído para sua audiência diminuir. Aos poucos a internet mata as outras mídias. Ela não se integra às demais, como era comum acontecer na história do jornalismo.

O fracasso do JN se assemelha à revista Veja. A “esquadra abriliana” gradativamente começa a definhar em circulação e prestígio. Vem perdendo em publicidade, influência. São poucos aqueles que ainda acreditam nas suas páginas, assim como no jornalismo global e em seus delicados apresentadores. O que salva a Globo é a publicidade. Ela leva para si sessenta por cento do bolo publicitário brasileiro. Que tempos safados, esses!

Vital B. Pontual é jornalista e autor do livro Escobar Júnior e a Cobertura da VEJA aos Atentados de 11 de Setembro de 2001. Emeio: vital.bel@bol.com.br

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