GERAÇÃO INFÂNCIA VIRTUAL

 

No mês de outro, mais propriamente na semana em que comemoramos o Dia das Crianças, em meio as minhas lembranças de “criança” me veio à tona uma reflexão que eu considero muito pertinente aos dias de hoje, e especialmente aos pais. Qual é o legado da infância que a geração atual está construindo?

Quando eu olho para trás e rememoro minha fase de criança encontro muitas histórias, muitas vivências, muitas lembranças saudosas de coisas que conheci, que vivi, de colegas que fiz, de amizades que construí (e diga-se de passagem que algumas delas perduram até hoje), relembro com o coração cheio de memórias afetivas sobre tantas brincadeiras e brinquedos que brinquei, um tempo bom, que apesar das dificuldades e limitações da época não nos impediu de sermos felizes com o que tínhamos, não nos impossibilitou de usarmos a criatividade para inventar e imaginar o que não tínhamos. Um tempo em que meninos e meninas brincavam juntos ou separadamente, em casa, na rua, na escola, na euforia do pique esconde ou pega-pega, barra-bandeira, amarelinha, brincadeira de casinha, de cantor, de artista de televisão, lendo livros, partilhando histórias, inventando estórias, nas disputas com bolas de gude ou rodas de pião, nos jogos com bola (futebol, handebol, vôlei) entre outros. A nossa velha infância foi construída assim, em muitas “companhias”, com muitas aventuras, partilhas, brigas, disputas, choros, risos, aprendizagem, cansaço, animação, e, sobretudo com muita “socialização”. Eu cresci assim, nossa geração cresceu assim. E trazemos hoje na bagagem de nossa saudade o aprendizado de muitas experiências.

Contrariamente a esse relato está a cultura tecnológica, que agracia a infância nos dias atuais com smartphones, tablets, computadores, internet, e que rouba dessa atual geração o interesse pela interação social, que os limita do contato físico para transportá-los ao mundo virtual, onde meninos e meninas preferem passar a maior parte de seu tempo “sozinhos”, correndo apenas nos joguinhos, interagindo por vídeos, conversando por áudios, por mensagens, enquanto permanecem com os olhos fitados numa tela, e sentados ou deitados com seus respectivos “amigos” aparelhos.

Minha crítica não é com relação a modernidade, a tecnologia, não me posiciono contra o contexto evolutivo entre os homens, as máquinas e o universo da internet, minha reflexão é uma preocupação sobre como a “era virtual” já interfere na comunicação humana, na expressão corporal, na saúde mental, na socialização das crianças de hoje, que não estão vivenciando experiências reais, e que por isso não estão construindo nenhum legado com lembranças sobre tudo o que viveram enquanto viviam.

A maioria das vivências coletivas e individuais vividas durante a infância preparam as crianças para as suas futuras experiências da fase adulta. Portanto, fica aqui o meu questionamento: como será que a “infância da geração virtual” está sendo preparada?

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