FOLHA DE PERNAMBUCO: Tráfico motiva crescimento da violência no Agreste

Folha esteve em Bezerros e Gravatá e registrou relatos da população, que também sofre com assaltos

Tráfico de drogas. Essa é a causa apontada pelas polícias Militar e Civil para o aumento da criminalidade no Agreste. De janeiro a julho deste ano os Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP), que são roubos a transeuntes, veículos, bancos, residências e comércios, registraram alta de 35% – foram 4.087 contra 5.544 no mesmo período de 2014. Já o número de homicídios na região cresceu 21% em relação ao mesmo período do ano passado – passou de 406 para 494. A Folha esteve nos municípios de Gravatá e Bezerros, ouviu relatos da população, de comandantes de batalhões da PM e delegados das duas cidades.

Em Bezerros, cidade a 99 km do Recife, os sucessivos assaltos à mão armada estão alterando a rotina dos 58 mil habitantes. “Não temos mais a mesma tranquilidade de antes. Não saio mais de casa à noite. Andar com o celular na mão é chamar a atenção de bandido”, comentou uma dona de casa, 32 anos, que não quis ser identificada.

Ela foi vítima duas vezes neste ano e relata que viveu o pior momento da vida há um mês, quando assaltantes arrombaram a casa onde reside em uma comunidade próxima ao centro. “Foi assustador. Já havia passado pelo trauma de ser roubada na rua e meses após tive minha casa invadida. Levaram meus pertences e materiais do meu pequeno comércio. Após isso, não tive escolha a não ser gradear toda a residência e viver praticamente presa em uma fortaleza”, lamentou.

Um comerciante de 52 anos teve o estabelecimento roubado há duas semanas. A ação ocorreu em um domingo pela manhã. Ele disse que não se sente seguro e que acredita que os roubos ocorrem com frequência para alimentar o tráfico de drogas na região. “Levaram todo o meu faturamento da semana, além de alguns pertences. O tráfico é responsável por isso. Há muitos viciados na cidade. Além de nós, comerciantes, os pedestres também são vítimas. Essa realidade também se deve à falta de policiamento na cidade”, comentou o homem. O impacto da violência também chegou à Serra Negra, a bucólica instância de inverno da cidade. Moradores e a comunidade flutuante – formada por turistas e donos de casas para fins de semana, reclama que já não têm mais sossegos. “Vivemos com medo de ser surpreendido por bandidos armados, como já ocorreu em várias casas, quando habitantes foram feitos de reféns”, diz um morador do Recife que tem sítio na localidade.

Em Gravatá, a 79 quilômetros da Capital, os moradores denunciam que o tráfico toma conta das comunidades periféricas. E lá, a população ainda fica receosa em falar sobre a presença de traficantes vindos de várias regiões do Estado e do Recife, principalmente nos pontos de comércio de entorpecentes concentrados em bairros periféricos como Caique, Bairro Novo e Área Verde.

Um trabalhador rural de 34 anos aceitou conversar com a Folha. Com o olhar desconfiado e as mãos calejadas do trabalho, ele contou que não tem mais tranquilidade. “Gravatá é vítima do tráfico de drogas. O Alto do Cruzeiro, que é o nosso único cartão postal, virou ponto para venda e uso. Já houve até assassinato por lá. Evitamos falar sobre o tráfico. Temos medo da represália deles (traficantes)”, contou.

Os relatos dos moradores são confirmados pela polícia. Segundo a 3ª Companhia de Polícia Militar (CPM), responsável pela segurança em Bezerros, cidade com pouco mais de 58 mil habitantes, de 1º de janeiro a 30 de julho, foram registradas 317 ocorrências de roubos no município, sendo 161 delas assaltos a transeuntes. O comandante da 3ª CPM, capitão Josivaldo Bezerra, afirma que a maior parte dos assaltos no município é ligada ao tráfico de drogas. “A problemática em Bezerros e em outras regiões do Agreste é o uso e comércio de entorpecentes. Muitos assaltos são para pagamento ao tráfico de drogas”, comentou Bezerra, que coordena um efetivo de 45 PMs disponíveis em três guarnições e um trio de patrulhamento motorizado. “Estamos aguardando a contratação de policiais recém-formados das academias. Com isso podemos ativar mais uma guarnição. Mas, esse reforço deve ocorrer até o fim deste mês”, complementou.

Delegado titular de Bezerros, Antônio Dutra também apontou o tráfico como a causa para o aumento da criminalidade. “A maioria dos assassinatos tem relação com atividades relacionadas ao tráfico. Muitos ocorrem em pontos de forte comércio como os bairros de Cohab, Asa Branca, Gameleira e Santo Amaro II”, afirmou o delegado.

Em Gravatá, o delegado titular atesta que 89% dos 24 homicídios ocorridos neste ano estão relacionados ao tráfico de drogas. “Os assassinatos ocorrem, pois o tráfico é muito rudimentar. Conseguimos frear um pouco dos homicídios após a deflagrar a operação ‘Paz na Serra’, com a prisão de 35 pessoas que integravam quadrilhas do tráfico”, destacou.

Comandante da 5ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), que coordena o policiamento em Gravatá, o major Silvestre Dantas estabeleceu uma meta de 12% na redução de homicídios até dezembro. “Queremos bater essa meta com ações que concentram e abordagens a pessoas suspeitas e operações para apreensões de drogas em bairros periféricos. Temos uma boa expectativa para que isso ocorra”, destacou o militar, que comanda um efetivo de 108 PMs e cinco guarnições.

Arte para conscientizar a juventude

Em meio à violência, o município de Gravatá conta com a esperança na juventude para unir forças contra a criminalidade na região: um trabalho social realizado pela Polícia Militar para conscientização de crianças de 8 a 12 anos. O projeto piloto “Patrulheiro Mirim” inclui trabalhos educacionais, de música e arte para a meninada com o intuito de passar mensagens contra o não consumo de drogas. Segundo o major Silvestre Dantas, que coordena o projeto, a primeira turma com 65 alunos iniciou as atividades há cerca de dois meses. “São três meses de curso e as aulas são duas vezes na semana aqui nas instalações da 5ª CIPM. O objetivo é afastar os jovens das drogas”, comentou Dantas.

Ainda de acordo com o militar, a procura pelo curso aumentou. “A segunda turma já está praticamente fechada. Aqui eles têm oportunidades de participar de várias atividades culturais”, diz o major, acrescentando que o projeto é financiado por parcerias com o custo mensal de R$ 2,5 mil.

Fonte: Folha de Pernambuco

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