Fogo Cruzado- Por Inaldo Sampaio

Guru de Bolsonaro chama de “absolutamente ridículo” o projeto que institui a Escola sem partido

O deputado Cleiton Collins (PP), um dos representantes da bancada evangélica na Assembleia Legislativa, resolveu assumir ser o autor de um dos projetos mais idiotas dos muitos que foram apresentados naquela Casa em 2016: o que institui a “Escola sem partido” nos estabelecimentos de ensino de âmbito estadual. O projeto é inspirado em evangélicos, que se acham no direito de doutrinar seus “irmãos” no interior dos cultos, de pedir votos para cargos eletivos e de recomendar candidatos até a presidente da República como fizeram como Bolsonaro nas últimas eleições. No entanto, como conceber um ambiente escolar sem a livre discussão política de ideias entre alunos e professores? Isso é de um absurdo sem tamanho. Suponha-se, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso sendo proibido na USP, de onde é professor emérito, de fazer a defesa da social democracia ou Luiz Pinto Ferreira impedido de exaltar o socialismo na Faculdade de Direito do Recife. Cada professor, se tiver bagagem para isto, deve apresentar aos seus alunos as correntes políticas em que o mundo se divide e as vantagens e desvantagens de cada uma. E, com o passar do tempo, cada qual forma a sua opinião. Imaginar que as escolas estão cheias de “marxistas” (90% dos professores não sabe nem o que é isto) só porque um professor desavisado vestiu uma camisa do “Lula livre” é confundir o Brasil com uma republicana africana da pior espécie. A propósito, vale conferir o disse o filósofo conservador Olavo Carvalho, um dos gurus de Bolsonaro, sobre esse projeto de lei indecente que também está em discussão na Câmara Federal: “Não começar propondo um projeto de lei absolutamente ridículo. Os fundadores da Escola Sem Partido são meus amigos, pessoas pelas quais tenho muito respeito e carinho, mas é preciso ser um amador para tentar vencer uma guerra cultural com um projeto de lei. Uma guerra cultural se vence no campo cultural, chamando os caras para a briga, demonstrando que são uns bananas, uns coitados, calando a boca deles com argumento”.

Cabeça policial

Durante os governos militares, o Brasil teve ministros da Justiça oriundos da política que se dedicavam unicamente aos assuntos políticos. Armando Falcão (governo Geisel) e Petrônio Portela (governo Figueiredo) foram os mais destacados. Tancredo continuou nessa linha com o deputado Fernando Lyra (PE), até que Lula assumiu e colocou um criminalista: Márcio Thomaz Bastos.

À Justiça – Bolsonaro resolveu apostar num magistrado para gerir a pasta da Justiça e Sérgio Moro já se cercou de tantos delegados da Polícia Federal que não tem o direito de errar. Quer bater de frente com o “crime organizado” e reduzir a corrupção no Brasil a índices aceitáveis. É tarefa de leão.

A palavra – Eduardo da Fonte (PP), durante visita de cortesia a Inocêncio Oliveira (PR), no escritório político deste, lembrou um fato de que poucos recordam. Sempre que estava presidindo a mesa da Câmara Federal, Inocêncio nunca negou a palavra a Bolsonaro, que era tido como “baixo clero”.

Time fardado – Já são cinco os militares de alta patente no futuro ministério de Bolsonaro, incluindo Secretaria de Governo, Defesa, Ciência e Tecnologia, e Gabinete de Segurança Institucional. Todos têm elevada qualificação técnica e profissional. Vamos ver como se relacionarão com o Congresso.

A carta – Terminou ontem em São Caetano do Sul (SP) a 74ª reunião da Frente Nacional de Prefeitos, entidade que já foi presidida pelo pernambucano João Paulo. Ao final, enviou-se carta a Bolsonaro com 6 pedidos, entre eles uma reforma tributária com manutenção do ISS e mais recursos para a saúde. Os prefeitos alegam que têm obrigação de investir 15% em saúde e investem 31%.

Peito lavado – O pernambucano Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Sena, acabou enriquecendo seu currículo após ter sido vetado pela bancada evangélica para ser ministro de Bolsonaro (Educação). Todos os grandes acadêmicos reconhecem que ele seria melhor na pasta que o futuro ministro Ricardo Vélez Rodrigues, sobre quem 99% dos brasileiros nunca tinham ouvido falar.

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