“DE BOAS INTENÇÕES, O INFERNO ESTÁ CHEIO” ou “SOBRE PORQUE MACONHA TEM QUE SER CHAMADA DE MACONHA”

Janaina Pereira é Administradora, Especialista em Gerenciamento de Projetos, Consultora há mais de 10 anos em Planejamento Estratégico e Marketing e Diretora Executiva na Porto3 Soluções.

No último dia 30, o Fantástico exibiu uma reportagem espetacular sobre os efeitos medicinais da maconha sobre a saúde de pessoas com doenças degenerativas e, tantas vezes, até mesmo desenganadas pela medicina. A partir de um trabalho voluntário, me envolvi com a causa de pessoas com doenças raras, muitas delas sem perspectiva de melhoras e que, pasmem, segundo muita gente (inclusive médicos), deveriam estar em casa, como que escondidas, esperando a morte chegar enquanto se conformam com o destino, karma, vontade de deuses ou qualquer outra razão em que se acreditam.

De fato, não sei qual a razão de terem nascido assim ou desenvolvido estas condições. Mas o que entendo menos ainda é qual a razão de permanecerem assim, sem o mínimo acesso às perspectivas, quando pelo menos longinquamente elas existem.

Existe perspectiva de tratamento – ainda que para aliviar os sintomas – no caso da menina Anninha e outros indivíduos de AME, ainda que esta perspectiva custe R$ 3 milhões.

Existe perspectiva de melhora da qualidade de vida de muitas pessoas através de tratamentos com derivados da maconha. Existe perspectiva de melhora na qualidade de vida de pessoas com doenças raras, câncer, deficiência, idosos, dificuldades de mobilidade… Só não parece existir perspectiva de melhora para a discriminação.

Quem conhece pelo menos um pouco da angústia de famílias cujo único alívio e esperança é o uso medicinal da maconha entende por que a ignorância sobre o tema deve ser extirpada. Ignorância gera discriminação e dificulta ainda mais a melhora de milhares de pessoas Brasil afora.

Não quero aqui fazer apologia ao uso da maconha nem de qualquer outra substância, e sim depor sobre o meu próprio preconceito. Cheguei a pensar, com a melhor das intenções, que a causa da maconha medicinal talvez até ganhasse mais adeptos se o nome fosse outro, se não se utilizasse o termo maconha. Hoje percebo que o ditado é verdade: “de boas intenções, o inferno está cheio”. Escutei de uma mãe envolvida com a causa o seguinte esclarecimento, que – felizmente – caiu como uma tapa no meu preconceito: “Tem que se dar às coisas o nome que elas têm. Qual a diferença chamar de maconha ou paracetamol? É tudo remédio”.

Esclareço que não é qualquer tipo de planta, substância ou tratamento que garantirá a cura das pessoas que dela farão uso. O que o tratamento – correto, seguro e adequado – garante é apenas e tão-somente aquilo que existe: PERSPECTIVA. E, para muitos, perspectiva é tudo o que resta.

Para ser honesta, eu faria isso por meus filhos, caso precisassem. E se fosse o seu filho, a sua mãe, o seu vizinho?

Permita-se entender.

Janaina Pereira

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