O nosso 47º entrevistado da série que levamos ao ar todos os sábados é o José Carlos Geraldo de Oliveira, 51 anos, o popular Carlos do Parada Obrigatória (P O), pré candidato a prefeito pelo PSOL. Carlos discorre sobre a sua chegada ao cenário político do município e fala do processo eleitoral que se avizinha. Quais as pretensões políticas suas e do partido? Quem é o Carlos do P.O? Essas indagações você pode acompanhar na entrevista que segue. Boa leitura!
BEZERROS HOJE- Você é mineiro, mas veio se estabelecer em Pernambuco há mais de duas décadas. Deixou a capital e veio para Bezerros, onde reside atualmente. O que lhe atraiu para o município?
Eu sou mineiro de nascimento, pernambucano por convicção e bezerrense de coração e alma…uma mistura “sui generis”.
Cheguei em Pernambuco no dia que completava 16 anos de idade. Meu pai, funcionário de carreira do Banco de Brasil recebeu a incumbência de vim para Recife para chefiar a auditoria de um triste episódio na história pernambucana conhecido como o “escândalo da mandioca” e naquele momento a intenção era passar dois anos em Recife, dois anos em Fortaleza e dois anos em Manaus, retornando para Brasília DF onde tínhamos deixado nossa última residência.
Nesse interim eu iniciei um estágio na área administrativa da Philips do Brasil e logrei êxito no vestibular da UNICAP onde conclui o curso de bacharel em direito. No quarto período do curso eu participei de um concurso para o BRB Banco Regional de Brasília e ao ser chamado para tomar posse no DF recebi o convite da Philips para figurar como funcionário na área Tributária e Financeira da empresa, onde fiz carreira por 23 anos até a empresa encerrar suas atividades industriais no estado.
No ano de 2004 eu estava passeando com a família pela BR-232 (recém duplicada) quando chegando em Gravata recebi uma ligação de um colega, Hiroite (japa – in memória); convidando para eu conhecer a casa que ele tinha adquirido em Bezerros na Vila dos Militares. Em resumo, 12 horas depois eu voltava para Recife como mais um a adquirir uma residência na citada vila. Passei a ter Bezerros como roteiro de todos os finais de semana e feriados.
Em 2008 a Philips encerrou suas atividades em PE e eu não quiz sair deste estado, momento em que tomei a decisão de investir em alguma atividade comercial, surgindo por acaso a oportunidade de comprar o ponto comercial Parada Obrigatória.
BEZERROS HOJE- Você administra um dos pontos comerciais no ramo de bares de mais referência na cidade. O segmento sempre fez parte de sua vida profissional ou é algo inusitado?
Por quase 15 anos eu fiz parte da diretoria da Associação dos Funcionários da Philips no NE, ocupando o cargo de presidente por 11 anos. Uma entidade que tinha por foco atender e criar eventos sociais e recreativos para mais de 3500 associados e seus familiares. Um clube com sede própria, quadra poliesportiva, Campos de futebol, conjunto de piscinas, saunas, salão de jogos, tatame, área social e bar. Em todos os finais de semanas e datas comemorativas tínhamos eventos. Era comum em datas como o São João e Carnaval recepcionarmos cerca de 5000 participantes (funcionários/familiares é convidados das empresas vizinhas – Coral; Gerdau; Kibon; etc). Contratava apresentações de peso na época como a Banda Labaredas, Anos Dourados, Banda Metade, Almir Rouche (banda Pingüim), etc.
Daí criei uma idéia de que um dia poderia ter uma casa voltada para o entretenimento. Tenho muito prazer em receber pessoas na minha casa, tanto a que resido quanto a que comercializo. Então posso responder que não foi algo tão inusitado assim.
BEZERROS HOJE- Você foi convidado por um grupo de pessoas para se filiar ao PSOL e o seu nome foi colocado naturalmente como candidato desse grupo para uma possível candidatura a prefeito. Como se deu isso de fato?
Em Bezerros como comerciante há cerca de 8 anos e como morador há 12, eu passei a ter curiosidade com as atividades políticas aqui desenvolvidas. Acompanhei o final de uma administração do Senhor Samuel, 4 anos do Senhor Marcone Borba, 4 anos da senhora Bete de Dael e os 3 anos do senhor Severino Otávio “Branquinho”. Sempre muito incomodado por não entender as razões pelas quais uma meia dúzia de pessoas ficam se revezando no poder sem trazer resultados práticos para um município tão cheio de carências. Muitas vezes ouvi de alguns bezerrenses que era por causa do “dinheiro que rolava na casa Verde”, mas ao longo do tempo eu percebi que não era isso. Percebi que esses grupos não precisam do dinheiro do município, são todos bem sucedidos financeiramente mas não conseguem viver longe do “Poder”. É uma necessidade frenética de demonstrar força ocupando o “poder” e dele tornando todos dependentes.
Na última campanha política abracei a candidatura do Senhor Branquinho por acreditar que ele seria a salvação deste município. Apoei abertamente a ascensão majoritária “BB” – Branquinho/Breno e o então candidato a vereador Júnior Borba. Sofri retaliações dos apostadores contrários e fui chamado de forasteiro com carros de som na minha porta gritando: “volta para Recife”.
Naquele momento eu acreditava tanto que era o caminho certo que se Jesus Cristo aparecesse como mais um postulante ao cargo de prefeito eu seria condenado à ser um herege, mas não deixaria de apoiar a cadidatura do Senhor Severino de tanto que eu apostava nesta opção.
Três anos se passaram e quão grande fora minha decepção. Talvez como a de tantos outros como eu, mas esperava algo diferente.
Surge então um grupo de pessoas também decepcionadas com a atual gestão e me convida a fazer parte de um trabalho de formação de uma consciência política diferenciada para este município sob a bandeira partidária do PSOL. Pessoas ligadas à área de comunicação local e com idéias voltadas para o atendimento das carências coletivas. Contra exatamente a “mesmisse” de cultivar a velha e ultrapassada política, essa mesma que vem fazendo nosso país passar por um vexame jamais visto; essa Cultura de manter os “puxa-saco” enquanto estiver no poder, que tentam se perpetuarem por uma migalha em troca mesmo cientes de que isto é um atraso para a própria vida além de ser o enterro das esperanças de dias melhores para a coletividade.
Obviamente que num primeiro momento fiquei surpreso com o convite que de princípio foi para fazer parte do quadro de filiados e posteriormente como candidato ao cargo de vereador, algo que não passava por minha cabeça aceitar, como não aceitei, embora quisesse tão somente ser um filiado.
Momentos depois, por uma determinação da estadual, o PSOL teria que lançar chapa completa em Bezerros para o pleito de 2016, e ao ser novamente convidado para figurar agora como pré candidato à majoritária eu aceitei pelas seguintes razões :
1) atenderia uma necessidade do partido e poderia trabalhar para todos os candidatos a vereador dentro da legenda.
2) não iria ter o compromisso de alavancar recursos financeiros para jogar numa campanha que já está decidida em Bezerros. Hoje ou Branquinho se reelege por aclamação ou indica com êxito seu sucessor.
3) o PSOL deixou claro que não estaria surgindo neste momento para ser a salvação de Bezerros como foi feito na campanha passada, 2012, e decepção nos anos seguintes.
4) caso venhamos a confirmar meu nome como candidato à majoritária, não iremos fazer guerra com nenhum outro postulante, ou fazer o jogo sujo com o poder financeiro recorrente; ou querer barganhar algo. Simplesmente vamos figurar como uma terceira via.
5) aquele eleitor que estiver satisfeito com a atual forma de gerir o município, seja quais forem suas razões, que continue votando na situação, faz parte de uma opção no regime democrático.
Aquele eleitor que não estiver satisfeito com a atual gestão mas também identificou que em outras opções tem representantes que um dia fizeram parte desta mesmisse ou que nunca conseguiu dela se livrar, que está saturado com tanta hipocrisia, estes eleitores são os que o PSOL quer ter como patrocinadores, como apostadores de uma terceira via, de uma opção diferenciada de idéias e práticas com resultados coletivos, sem reserva de mercado para herdeiros ou amigos do poder.
BEZERROS HOJE- Você tem tido uma visão crítica bastante aguçada em relação a certos comportamentos políticos no município. O que está errado, o que está certo?
Eu não acho que seja uma simples visão crítica, eu vejo o que todos vêem, a diferença é que eu me expresso sobre aquilo que estou vendo, enquanto tantos outros ficam no anonimato para saírem bem na fita. Seria irracional da minha parte achar que em poucas linhas eu iria elencar os erros e os acertos de um comportamento político Municipal.
Não tenho a menor dúvida de que o senhor Branquinho tem boas intenções e compromisso com o que deve ser certo dentro de uma administração que se preza, até porque seu histórico é bastante idôneo e fala por si só. Infelismente gestão pública passa pela necessidade de ter uma equipe no comando de pastas importantes para a administração. Nesta hora de definir tal equipe é que se deixar aflorar o peso de ter que atender àqueles que de alguma forma participaram ativamente da formação do grupo em busca do poder que podemos cometer grandes equívocos; quando nomeamos para uma pasta alguém que demonstrou incompetência para gerir coisa própria, quanto mais coisa pública…quando confundimos amizades de infância com cargo de confiança; quando corremos o risco de nomear raposa para chefiar um galinheiro; quando damos valor demais a alguém que pode atingir 99% de antipatia da população e ainda assim o tornamos gerenciador de uma pasta super importante para o município. São nessas definições que os problemas ficam bem evidentes de que não se tem muita preocupação em serem resolvidos para focar no atendimento das carências do coletivo, mas tão somente atender os participantes do grupo com a velha e ultrapassada política do repartir o bolo.
BEZERROS HOJE- Fala-se que o PSOL Bezerros dificulta alianças com a oposição. Chegou a se posicionar contrário diante de uma noticia onde se alinhava a outros partidos, inclusive da direita. O partido não corre o risco de ficar isolado nesse processo?
Eu não acho que o PSOL Bezerros dificulta alguma aliança com a oposição. No momento em que despontar no quadro alguém com postura política coerente, com desapego do poder pelo poder ou para resolver coisa própria, com compromisso em promover mudanças voltadas para atender a coletividade com inteligência e oratória atualizada e de consenso, aí sim o PSOL estará apoiando ou participando. Mas enquanto ficar com a praticar de agressão, de formar grupo financeiro para barganhar cargos, para simplesmente estar no poder ou colado nele, realmente o PSOL não participará.
Não podemos aceitar que seja atribuído ao PSOL um isolamento, na realidade o que está acontecendo em Bezerros para o pleito de 2016 é uma blindagem da atual gestão em torno do prefeito que determinará “Quem é Como” será o próximo chefe do executivo. Pessoas que poderiam estar à frente de uma oposição consciente, madura e compromissada com os destinos deste município, preferiram aderir ao Grupo tão somente para não ficar longe do poder.
Isso sim é um real isolamento de idéias políticas, uma anulação de um comportamento de representação, uma falta de compromisso com seguidores, eleitores do passado que depois de tanta luta e sofrimento ficam hoje sem entender o que está acontecendo.
BEZERROS HOJE- Cerca de 30 pessoas foram filiadas, mas apenas dez estariam aptas a se candidatar a vereador. O desafio seria atingir o quociente eleitoral para eleger um legislador. Como você analisa essa conjuntura. Não seria muito utópico diante dos cenários que se desenham em outros partidos?
Utopia é pensar que mantendo um grupo se revezando no poder que Bezerros chegará em algum lugar diferente do que se encontra…queremos e precisamos de um município melhor para todos.
Utopia é continuar apostando nas velhas práticas políticas sem resultado positivo para a população.
Utopia é se juntar num “Chapão” anulando a consciência política do eleitor e lhe condicionando a votar: “aceita ou não aceita é nós de novo mano”. Neutralizando possíveis opositores e tornando-os peças de manobra por puro receio de jogar o jogo…para não correr riscos de perder o poder…isso sim é uma UTOPIA.
O PSOL não vai sair em busca de um resultado imediato, mas vai oferecer uma outra via para desenvolver inteligência política como opção. Sair com cinco candidatos ou com cinquenta não faz diferença se no conteúdo a representação for oca…vazia…sem criatividade. Caberá ao eleitorado entender o real cenário político de Bezerros hoje e mudar de atitude na hora de votar.
BEZERROS HOJE- Você tem conhecimento do município para debatê-lo caso sua candidatura a prefeito vá adiante?
Talvez eu não tenha conhecimento de cada metro quadrado deste município para dizer que eu o conheço por completo, mas tenho certeza de que conheço bem das necessidades e carências da população como um todo. A rigor numa gestão eficiente cada responsável por uma pasta precisa ter uma visão técnica apurada e atuar nas soluções com eficiência, ao gestor mor caber delegar as atribuições e criar condições de viabilidade para que estas sejam executadas com sucesso. Não vejo como salutar a centralização das soluções no chefe do executivo. Isso engessa a máquina pública e hoje as necessidades e os processos para atende-las precisam de celeridade; dinamismo e atuação de equipe com sinergia.
Não posso concordar com a centralização do poder nem tão pouco com as justificativas dadas pela ausência ou falta das soluções. Não dá para usar a palavra “crise” como desculpa para não fazer nada. Se fosse para ser gestão com estes artifícios era melhor dela nem participar.
BEZERROS HOJE- Suas considerações finais…
Gostaria muito de deixar claro que minha participação no cenário atual não visa “tirar nada de ninguém ” nem tão pouco causar qualquer constrangimento aos demais postulantes. Tento atender uma solicitação partidária e jamais me refutaria a participar de um debate que tenha Bezerros como foco. Naquilo em que estiverem buscando o melhor para este município o PSOL Bezerros estará apoiando independente da sigla ou ideologia partidária. Naquilo que não ficar claro as reais intenções ou se elas forem nocivas à coletividade o PSOL se reserva o direito de fazer críticas e adotar postura contrária. Estamos aqui para somar e esperamos que as atitudes mesquinhas da retaliação, da perseguição não façam mais parte deste cenário. Preferimos apostar no amadurecimento da consciência de cada um que se proponha a representar este município.
Se partirmos do pressuposto de que cada indivíduo é singular; de que cada um possui suas próprias crenças, valores e ideologias em relação a tudo ao seu redor, concluiremos que os processos sociais e políticos são tendências naturais do ser humano.
Aos revoltosos ou que não aceitam o contraditório eu finalizo com palavras de Aristóteles: ” numa democracia, a luta entre partidos políticos não é uma luta pela sobrevivência, mas uma competição para servir o povo.”
Muito obrigado pela oportunidade e atenção e desculpas pelo longo texto.