A esquerda que precisa voltar a ser de esquerda

Mikhail Gorbachiov é Cientista Social pela UFPE

Nos últimos anos muito se tem ouvido falar sobre as ideologias de esquerda e de direita. Mas o que as caracteriza? Como surgiram? Como se encontram e que papéis desempenham hoje?. Estas são perguntas que podem nos ajudar a traçar um panorama sóciocrítico de como as principais tendências tem se comportado no decorrer do processo histórico mundial e nacional, seus avanços e retrocessos.

A ideologia de esquerda tem sua origem na 1ª fase da revolução francesa, quando nas assembleias do século 18 a burguesia buscava apoio dos mais pobres para diminuir os poderes da nobreza e do clero. Com a assembleia constituinte montada, os mais ricos negaram-se a se misturar aos mais pobres e se sentaram à direita do plenário, por sua vez o lado esquerdo estava ocupado pelos trabalhadores, assim ficando a esquerda conhecida pela associação a luta de trabalhadores, enquanto que a direita estava voltada para o conservadorismo e a elite.

Caracterizada por lutar pelos direitos da classe trabalhadora e camadas mais pobres da sociedade e pelo bem estar coletivo, a esquerda brasileira sempre se destacou por suas lutas históricas, pela consciência de classe, pelo caráter militante e de educação de suas bases. Esta mesma esquerda carrega trunfos como: a resistência a ditadura militar, a redemocratização do país, o impeachment de Collor, e seu apogeu com a chegada de Lula à presidência da República no ano de 2002.

No decorrer de 13 anos de governo petista (esquerda) podemos observar inúmeros avanços positivos que vão dos programas sociais e descentralizações de Universidades e Institutos Federais até a valorização do salário mínimo e aumento da linha de crédito. Porém estes ganhos não vieram de graça. Ao mesmo tempo em que o governo garantia benefícios para camadas mais pobres da sociedade, também agia como uma espécie de Robin wood as avessas, quando tirava desta em forma de tributos para dar aos ricos em forma de dívida pública.

É válido lembrarmos que o próprio Lula chegou a reconhecer que em seu mandato os banqueiros lucraram, e muito.

Hoje a esquerda aparentemente uma e coesa de outrora parece mais encontrar-se tal qual a torre de babel, onde não se fala a mesma língua e só acaba gerando mais confusão do que a que o páis já enfrenta.

É chegada a hora da esquerda voltar as suas origens e aprender consigo mesma (só que no período que não estava no poder). Pensar como classe popular, trabalhadora, estreitar os laços com as bases sociais ir as ruas, mas sobretudo deixar de lado os acordos palacianos e o toma lá, dá cá, que inclusive foi a moeda de troca para a governabilidade petista durante estes 13 anos.

A esquerda precisa voltar a ser de esquerda e pautar na ordem do dia os interesses de uma classe trabalhadora e popular que é escamoteada ferozmente sem necessitar de vender a alma ao diabo no Congresso Nacional. Antes de tudo a esquerda precisa pensar estratégias de fortalecer o nosso legislativo nacional e deixar de se preocupar apenas com o executivo. Para ser curto e ainda utilizar expressões que estão na moda: A esquerda precisa deixar de ser Nutella e precisa voltar a ser raiz.

Mikhail Gorbachiov

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