Mulheres em Pauta

“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” (Simone de Beauvoir)

Diante da atual situação de pandemia devido à doença infectocontagiosa COVID-19 (doença do coronavírus), e das medidas oficiais de quarentena. Não é novidade para nós mulheres, que nossos problemas são cotidianos e que deveremos ser vigilantes todo tempo, porém vale refletir esse momento que nos acomete, pois sempre somos nós que cuidamos e nos colocamos na linha de frente. O intuito desse texto é refletirmos juntas as várias situações que nos afetam nesse novo contexto.
De acordo com a ONU Mulheres – Globalmente, as mulheres representam 70% das pessoas que trabalham no setor social e de saúde e são responsáveis pelos cuidados não-remunerados em casa três vezes mais do que os homens.
Com o agravamento dos sistemas de saúde, a suspensão temporárias das creches e escolas, as tarefas de cuidado doméstico, a responsabilidade de cuidar de familiares doentes, pessoas idosas e crianças recaem principalmente sobre as mulheres, são as mais afetadas quando se trata do trabalho não remunerado.
As mulheres sempre conseguiram transformar as dificuldades das crises com luta e perseverança, com a redução das atividades econômicas que as afetam, em primeira instância, trabalhadoras informais tem perdido de imediato os meios de sustento, e pior, sem nenhuma rede ou possibilidade de substituir a renda diária em geral.
Outra situação importante da qual não podemos esquecer são as trabalhadoras domésticas que sofrer os seguintes desafios: o aumento da carga de cuidados devido ao aumento do trabalho não remunerado, em seus lares e no trabalho doméstico, como também as responsabilidades de perda de renda quando, por motivos de saúde, são solicitadas a parar de trabalhar porque consideram um risco de contágio para as famílias com as quais trabalham, ou ainda, quando são obrigadas a ir trabalhar sofrendo riscos de patroas e patrões contaminados e que por não terem a mesma condição de vida, perderem suas vidas bem antes que eles/elas.
Precisamos lembrar das mulheres e meninas que estão em situação de violência, é visível que os riscos de vida aumentam, especificamente as que sofrem violência doméstica e abuso sexual. Se as mulheres precisam ficar isoladas, as mesmas não conseguirão enfrentar obstáculo para fugir e situações agressivas e muito menos facilidade em acessar a rede de proteção. Com essa afirmação não quero incentivar a desobediência das restrições da quarentena, de forma alguma, o momento é de empatia nessa luta coletiva e precisamos ficar em casa sim, porém não podemos negar a triste realidade que muitas de mulheres vivenciam com os agravantes desse momento.
Em relação aos conflitos econômicos da pandemia, surgem riscos de aumento de exploração sexual para fins comerciais, devido à escassez de direitos básicos como alimentação.
Precisamos reconhecer o impacto que o COVID-19 exerce na vida das mulheres
e meninas, pensar juntas e coletivamente em como podemos garantir respostas que atendam às necessidades das nossas companheiras, da nossa comunidade e cobrar de todos e todas o fortalecimento, esforços e reponsabilidades nas estratégias de prevenção, resposta e recuperação a esta situação tenebrosa que vivenciamos.
Tenho visto várias postagens de solidariedade e empatia, que esse espírito de coletividade ecoe em vários espaços, não podemos deixar que isso seja algo isolado, ou seja um pensamento de um/uma ou outro/outra, precisamos fortalecer e nos mobilizar para o bem comum. Todos esses relatos nos mostram como o lucro vem primeiro que a vida, podemos reconstruir um país, porém jamais podemos reverter a morte.
Uma coisa é certa, na luta coletiva e na dor compartilhada. Juntas sempre seremos mais fortes!


Michelle Silvestre – Mulheres em Pauta.

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