Lacunas na disponibilização dos dados da covid-19 em Bezerros

Getúlio Batista, Graduando em Gestão da informação – UFPE, Membro do Observatório COVID – 19 

A ausência de informação clara, atualizada e disponível em tempo real, hoje é uma questão que preocupa não só os cientistas, mas também os políticos, empresários e a sociedade em geral. Essa preocupação advém, devido ao fato de que em meados de dezembro de 2019 a China ter detectado um novo coronavírus (COVID-19), que ultrapassou fronteiras e tornou-se a maior crise de saúde no mundo em um século. É notório que para conter a rápida disseminação do vírus ao redor do mundo é necessária a percepção da população sobre a gravidade da situação, a coerência nas decisões do governo e as particularidades das diversas regiões do globo. Para isso, toda decisão a ser tomada, depende da disponibilidade de informações que sirvam para subsidiar o desencadeamento de ações. A qualidade destas informações, por sua vez, depende da adequada coleta de dados, que são gerados no local onde ocorre o evento sanitário (dado coletado). É Também nesse nível que os dados devem primariamente ser tratados e estruturados, para se constituírem em um instrumento para tomada de decisão.
Apesar de Bezerros ter um discurso que a transparência é e sempre será sua aliada, observa-se que na prática os boletins epidemiológicos divulgados quando comparados a outras cidades da IV região de saúde, pouco trazem informações, Limitando-se apenas a divulgar “Casos suspeitos”, “Casos confirmados”, “Recuperados”, “Óbitos Confirmados”, “Óbitos em investigação”, “Síndrome gripal” “Monitoramento domiciliar concluído”. Além disso, os boletins epidemiológicos deveriam ser também disponíveis em formato não proprietário, sem que nenhuma entidade ou organização possua seu controle exclusivo. De igual modo, os dados devem ser publicados sob uma licença aberta, sendo livre de patentes ou qualquer outro dispositivo legal que restrinja sua utilização e replicação. Adicionalmente, devem estar disponíveis e indexados na Web, em formato compreensível por máquina?homens, para que se viabilize sua reprodução e reutilização .
Entretanto, do ponto de vista prático, a realidade que se apresenta é de uma grande massa de dados e informações públicos não tratados e não disseminados de forma pública. Cada município deve publicar não o que acha certo, mas sim, segundo critérios legais e de interesse público. Além disso a transparência não é apenas um número X ou Y ela deve ser entendida como uma ferramenta de controle social que permite entender melhor o funcionamento do governo sob diversas perspectivas.
Logo, a produção e publicação de dados e informações sobre o avanço da pandemia da Covid-19 em Bezerros encontra algumas dificuldades, por não apresentarem informações completas, nem trazer dados por exemplo que represente o avanço da doença nos mais diversos bairros do município. Além da ausência de indicadores oficiais como por exemplo: Qual a taxa de letalidade no município? Qual a quantidade de leitos e respectiva ocupação? Estamos vivenciando o pico da doença? A doença está concentrada em qual faixa etária/sexo? Regiões menos favorecidas socialmente concentram os maiores números de casos? Os lugares mais remotos do município que por acaso foram atingidos, tiveram suas populações testadas?
Como resultado, a extração de informações e produção de conhecimentos, que poderiam ser úteis para a sociedade e a própria gestão municipal, não acontece com a agilidade e eficácia necessárias para lidar com questões tão urgentes. Apesar do conceito “Dados da Covid-19” estar em evidência, o planejamento e sua disponibilização pela secretaria de saúde de Bezerros ainda é um desafio a ser explorado, ao nos depararmos com os lacunas apresentadas ao decorrer desta análise, podemos perceber que muito precisa ser feito acerca do planejamento e disponibilização de dados públicos em formatos abertos para a população bezerrense.

Getúlio Batista, Graduando em Gestão da informação – UFPE, Membro do Observatório COVID – 19 – Plataforma aberta e social para monitoramento da Covid – 19 criada pela UFPE – CIN (centro de informática) e pesquisador pela mesma instituição.

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